terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A renúncia de Ratzinger, por Raphael Juliano




                Mais uma vez vejo um fato histórico que trará consequências inimagináveis para o mundo. Outro dia escrevia que vi a internet nascer e transformar o modo como os seres humanos interagem, seja no trabalho, na família, no anonimato.
                Pois bem, o outro fato é a renúncia de Ratzinger à cadeira de Pedro. Um evento com precedentes históricos que remontam seis séculos atrás, com a renúncia de Gregório XII nos idos de 1400. Confesso que não esperava por isso. Talvez se tivesse acontecido no pontificado de Karol Wojtyla eu não teria sido pego de surpresa. Digo isso porque esperava tudo de João Paulo II. Em toda sua humanidade eu esperava fraqueza, doçura, revisão de posturas, qualidades próprias dos homens de boa fé. De Bento XVI confesso que, em meus prejulgamentos, esperava cada vez mais endurecimento, conservadorismo e nunca revisões. Rever posturas é atitude de gente nobre.
                Creio que não é um momento de crise para a Santa Sé. Creio que será momento de amadurecimento. Momento para repensarem um novo cristianismo. Um cristianismo menos perverso, que vá na contra mão desse evangelicismo protestante desumano e cheio de passes de mágica e palavras de poder e ódio. Se os cristão quiserem manter ilesa a memória do inspirador do cristianismo (Jesus), talvez seja o momento de retomar o caminho feito a sete anos atrás, antes de Wojtyla partir. Talvez seja necessário “regredirmos” à primitividade da doçura do evangelho pregada por outros Joões: o evangelista e o João XXIII.
                Percebo no gesto de Bento XVI humanidade e sabedoria, talvez características que não estivessem presentes em seu pontificado, mas que sinalizaram seu final. A comunidade cristã internacional precisa de novos ventos. Que novos ventos venham, que novas pessoas venham, que caiam os Bentos conservadores e cresçam os Bentos doces e deveras humanos... tão humanos que quando precisarem não temam dizer: “Não dou mais conta!”

p.s. Não creio nas instituições religiosas como aquelas que re-ligam o sacro ao humano, mas não posso negar que tenho um carinho especial pelo catolicismo romano (foi lá que conheci pessoas boas de Deus...grandes amigos).
Raphael Juliano