Mais uma vez vejo um fato
histórico que trará consequências inimagináveis para o mundo. Outro dia
escrevia que vi a internet nascer e transformar o modo como os seres humanos
interagem, seja no trabalho, na família, no anonimato.
Pois bem, o outro fato é a
renúncia de Ratzinger à cadeira de Pedro. Um evento com precedentes históricos que
remontam seis séculos atrás, com a renúncia de Gregório XII nos idos de 1400. Confesso
que não esperava por isso. Talvez se tivesse acontecido no pontificado de Karol
Wojtyla eu não teria sido pego de surpresa. Digo isso porque esperava tudo de
João Paulo II. Em toda sua humanidade eu esperava fraqueza, doçura, revisão de
posturas, qualidades próprias dos homens de boa fé. De Bento XVI confesso que,
em meus prejulgamentos, esperava cada vez mais endurecimento, conservadorismo e
nunca revisões. Rever posturas é atitude de gente nobre.
Creio que não é um momento de
crise para a Santa Sé. Creio que será momento de amadurecimento. Momento para
repensarem um novo cristianismo. Um cristianismo menos perverso, que vá na
contra mão desse evangelicismo protestante desumano e cheio de passes de mágica
e palavras de poder e ódio. Se os cristão quiserem manter ilesa a memória do
inspirador do cristianismo (Jesus), talvez seja o momento de retomar o caminho
feito a sete anos atrás, antes de Wojtyla partir. Talvez seja necessário “regredirmos”
à primitividade da doçura do evangelho pregada por outros Joões: o evangelista
e o João XXIII.
Percebo no gesto de Bento XVI
humanidade e sabedoria, talvez características que não estivessem presentes em
seu pontificado, mas que sinalizaram seu final. A comunidade cristã
internacional precisa de novos ventos. Que novos ventos venham, que novas
pessoas venham, que caiam os Bentos conservadores e cresçam os Bentos doces e
deveras humanos... tão humanos que quando precisarem não temam dizer: “Não dou
mais conta!”
p.s. Não creio
nas instituições religiosas como aquelas que re-ligam o sacro ao humano, mas
não posso negar que tenho um carinho especial pelo catolicismo romano (foi lá
que conheci pessoas boas de Deus...grandes amigos).
Raphael Juliano