domingo, 26 de maio de 2013

Submeter tudo que nos desumaniza, por Raphael Juliano.


Confesso que faz algum tempo que estou pensando em algumas coisas que tem me incomodado: tecnologia, escassez de tempo e consumismo.
                A revolução virtual tem me ceifado algumas coisas boas como ler em papel e simplesmente bater papo com alguém de carne e osso. Não quero ser hipócrita e dizer que vou abolir a web da minha vida, ou mesmo jogar meu celular no lixo. Na verdade minha intenção é usar a internet como plataforma para obter algumas informações, trabalho e contato impessoal com pessoas que estão fora de minha intimidade diária. Outro dia mandei a operadora retirar a internet do meu plano de celular. Não quero ficar refém da virtualidade! Não quero postar o lugar onde estou almoçando ou em qual cinema vou, afinal ainda amo essa coisa de anonimato. Definitivamente não quero concretizar, se é possível, a obra de Orwell, “1984”, onde não há privacidade, onde a sociedade vive sobre a força coercitiva e vigilante de uma entidade estatal que a todos vigia.
                Ontem estava na academia e enquanto corria na esteira pensava nas três outras coisas que deveria fazer após sair da ginástica. Meu Deus, que loucura: fazer mercado, lavar roupa, limpar a casa e fazer comida. Tudo isso para uma tarde de sábado. Não posso! Não aguento! Quero curtir minha preguiça, meu sofá e um tabaco bom! Se não der para fazer tudo: limpar, lavar, trabalhar, namorar, escrever, assistir filme, encontrar com os amigos, viajar, passar roupa, cuidar do carro, pagar as contas, dormir, fazer a barba, escutar música, academia, dar aula, fazer comida.... Juro que escolho o que me for mais leve. Se não der tempo, não deu. Fica para amanhã ou depois. Aquele ditado “não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje”....que vá ao inferno. Vai ficar prá amanhã! Meu hoje é para mim! E nele sempre estão as pessoas e as coisas que me fazem bem.
                Quando entro nessas catedrais de consumo, os shoppings, confesso que fico meio deslocado. Primeiro porque detesto comer naquelas praças de alimentação onde reina o “food”. Não é apenas comida rápida. É tudo muito rápido. Gosto de me demorar em uma mesa. Aprendi com o cristianismo que a mesa é o lugar do encontro e da partilha. Essas praças de alimentação entram na dinâmica do consumismo. Você tem que comer, beber e sair até às 23 horas porque senão só poderá pegar seu carro no outro dia. Quem quer se encontrar em um shopping pelo amor de Deus? Com hora marcada prá tudo? O consumo se reinifica como sinhô e coloca o tempo como seu capitão do mato que nos chicoteia a todo o momento! Que bela dupla!
                Fora a praça de alimentação existe aquele apelo desgraçado para as compras:
                 “O que você precisa para ser feliz hoje, senhor?”
            “Um perfume? Celular de três mil reais? Quem sabe um sexo fácil? Vai uma trepadinha por cinquenta reais?”
                É insuportável pensar que estamos coisificando nossa felicidade, nosso amor... nossas relações. Hoje tudo pode ser consumido! E o pior talvez nem seja essa oferta de todas as coisas. Talvez o pior seja nos enveredarmos pela triste ilusão de que seremos mais gente quando comprarmos isso ou aquilo. O que se dá é o contrário.
                Não se iludam! Eu uso a internet, não tenho todo tempo do mundo e compro. Todavia tomei uma decisão séria, e Deus me ajude, que seja perene: Usarei a tecnologia, o tempo e o dinheiro em meu favor, afinal o que são eles? Meio? Referência? Papel?
                                                                                                                                                                                                                                        RJ
Belo Horizonte, 26 de maio de 2013.