sábado, 25 de outubro de 2014

Vocês vão governar para quem?



O que queríamos ver? Uma conversa sobre os pontos cruciais que precisam melhorar em nosso país.
O  que vimos? O de sempre. Marketeiros manipulando os candidatos de modo que eles fugissem, pelo ataque rasteiro, das principais questões que precisam vir ao debate público. Pouco ou nada se discutiu sobre sustentabilidade, reforma política, o fortalecimento do estado laico, políticas que defendam grupos vulneráveis, a gestão participativa e representativa do SUS e tantas outras pautas.

O jogo político se dá aí: no campo da marginalidade, onde os presidenciáveis tateiam entre o que dizer e o que não dizer. Sim, o jogo, é marginal, diferente da boa e distante política. Já sei em quem vou votar e não farei lobby aqui. Apenas escrevo porque no meio de tudo isso estamos nós, sociedade civil, e diferentemente do que a mídia golpista diz, não estamos em um regime bolivariano. Estamos longe disso. Estamos amordaçados! Nossas perguntas e dúvidas não foram discutidas. 

Faço das palavras de Raquel Landim, repórter especial do jornal Folha de S.Paulo, as minhas:
"Depois de protagonizarem uma campanha de poucas propostas e muitos ataques, que dividiu o país ao meio, vocês serão capazes de adotar uma agenda conciliadora e governar também para a metade do país que não os elegeu? Como?"

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Cadê meu quintal?


Nosso país é uma grande casa onde a maior parte das pessoas não tem a dimensão da rua. Sim, é uma menção a Roberto DaMatta em sua obra "A casa e a rua". Hoje pela manhã enquanto lia jornal vi uma matéria sobre um cidadão que trabalha como policial civil em Brasília. Ele está de uniforme e pula a catraca da portaria de um Hospital. Quando o segurança do lugar repreende a forma como o policial se portou ele é algemado e conduzido à Delegacia.

Certo é que não se trata da atitude de um policial. Eu sempre insisto: é a atitude de um homem (ô racinha, viu!). Nossa espécie dá sinais de falência a todo instante, contudo aqui embaixo do Equador há alguns comportamentos que ainda são mais arraigados. Temos muita dificuldade em separar aquilo que é público do que é privado, a casa da rua. Não conseguimos mais ter limites quando estamos em um ambiente que não é só nosso. O brasileiro tende a levar sua ambiência privada para o espaço comum, da mesma forma que utiliza do poderio que o estado investe no serviço público para satisfazer a interesses pessoais. Além do poder existe um outro mecanismo largamente utilizado por nós: o status. Não mais o policial ou o juiz, agora aquele que diz "sabe com quem está falando?" é um médico ou um jogador de futebol, mas a mistura entre público e privado continua porque na maior parte das vezes quando essa frase é usada por essas pessoas, que não são funcionários públicos, é para fugir da aplicação lei.
É assim que ainda funciona aqui. Podem dizer que mudamos alguns comportamentos. Até acho que pela vigilância digital realmente tenhamos mudado, mas o fato é que a frase "sabe com quem está falando?" nunca deveria ter sido dita.




terça-feira, 14 de outubro de 2014

O direito a não sentir dor




A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) fará consulta pública sobre Resoluções que tem o objetivo de controlar o tipo de parto das mulheres brasileiras. Sim! A ANS diz querer estimular o parto normal, mas as resoluções querem é regular.

No Brasil, na rede particular, mais de 80% dos partos são por cesariana. Mais de 40% dos partos no Sistema Único de Saúde (SUS) são por cesariana. A média geral é superior a 50%, mais de 35% do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). 

O Ministério da saúde afirma que o parto não é uma questão de consumo, mas sim de saúde pública. A incidência de síndrome respiratória aguda é maior nas crianças nascidas na cesariana, o número de óbitos neonatais também é maior, segundo o MS e a OMS. E lá vem aquela balela de que a vida é um bem inalienável. 

Não sou contra o parto humanizado. Não sou contra o parto normal. Penso que essa é uma decisão que deve ser partilhada entre paciente e médico. 

O Estado quer proteger o direito a vida a todo custo, mas e o direito a não sentir dor? Existem lugares onde o Estado não cabe.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A esperança enrugada é melhor que a velha privataria

Lembro-me quando Lula foi eleito: "a esperança venceu o medo". E de lá para cá muita coisa mudou. Como qualquer ideologia político partidária o lulismo e o petismo tomaram volume. E o que esperávamos? Uma política de bons moços? As oligarquias que mandavam e desmandavam no país desde a abertura democrática nunca foram compostas por bons moços. Para garantir a governabilidade o PT teve que entrar no jogo. É assim que funciona. Ainda é assim! Muitos erros, sem dúvida. Quem quiser se salvar tem que pular desse barco. 

Minha opinião pessoal é de que não está ótimo. Todavia pode voltar a ficar ruim. Não votei em Dilma. Ela não conseguiu fazer a reforma política que o Brasil precisa. Sim! Meu voto foi pela abolição do atual sistema. Não foi um voto de protesto. Eu e meu pequenino voto queríamos desestabilizar o que está posto. Evidente que não consegui. Minha Luciana volta para suas lutas diárias e agora tenho que me decidir entre a social-democracia e a enrugada esperança trabalhista. 

Não duvido da capacidade técnica de Aécio. Não duvido de sua equipe e gestão. Eu duvido é de suas intenções. Vamos voltar a um Brasil de poucos. Vamos voltar para as mãos daqueles que geriram esse país por mais de trinta anos e nunca se lembraram do povo, de quem está na base da pirâmide. Aécio Neves destruiu a educação de Minas Gerais, manipulou números para demonstrar indicadores positivos e sucateou a saúde. Sou mineiro. Sei do que estou falando.

Dilma gerou renda, falta avançar e gerar competências. É para isso que votarei nela. Vou permitir mais uma vez que a esperança vença o medo.

Não dá para ficar em cima do muro.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A crueldade nossa de cada dia





Uma das primeiras leis que estudei durante meu período de formação como profissional de segurança foi a lei 9.455/97, aquela que define os crimes de tortura. Lembro-me que questionava, absorto em mim, sobre a necessidade de uma lei que protegesse as pessoas de tal crime. Questionava-me não em relação a lei em si, mas sobre o fato de que existiam pessoas capazes de submeter outro ser humano à sofrimento físico e mental sob alegações diversas: castigo, obtenção de confissão ou mesmo de maneira preventiva.

Durante mais de uma década percebi que existem pessoas assim além dos livros de História. Negros, judeus, ciganos, pobres sempre foram as vítimas preferidas desse delito, todavia a crueldade narrada pelos historiadores, desde o holocausto até o apontamento das ditas classes perigosas (conceito sociológico ultrapassado), se materializa no nosso dia a dia.

Em Araçatuba, interior de São Paulo, uma menina foi torturada pelo padrasto, Maurício Scaranello, e pela mãe, Sara de Andrade Ferreira. Eles ofereciam cebola para a criança alegando ser maçã e a impediam de dormir. Os dois torturadores já foram indiciados.

Agora pergunto-me qual o perfil desse casal? Até a descoberta do crime, no início deste mês, eram criminosos que passavam despercebidos pela comunidade. Não há no perfil deles nada que indique as atitudes das quais são acusados, a não ser uma característica fundamental: são humanos.

Quando escreve o mito do Cocheiro, Platão compara a alma a uma carruagem puxada por dois cavalos, um branco (de gênio difícil) e um negro (o do prazer). O corpo humano é a carruagem, e o cocheiro (razão) conduz através das rédeas (pensamentos) os cavalos (sentimentos).  Para o filósofo, cabe ao homem através de seus pensamentos conduzir seus sentimentos, pois somente assim ele poderá manter-se sóbrio. Parece-me que as rédeas andam soltas!

Hoje eu entendo bem a lei e sei que existe maldade por aí. Nunca presenciei a personificação do mau como as religiões narram. Contudo vejo todos os dias o que os da nossa espécie são capazes de fazer. Um amigo sempre me diz que existem mais pessoas boas do que ruins. Eu discordo. Existem mais pessoas más do que boas, e elas precisam infligir ao outro sua cota diária de crueldade, seja através de uma fofoca de canto de escritório, seja oferecendo cebola à uma criança.