No último domingo eu não esperava
nada diferente. A decisão do campeonato brasileiro em Minas trouxe à tona a minha
tristeza e desesperança. Isso porque
lembrei-me de junho, um mês que como já escrevi antes, ficará na memória deste
país ou porque resultará em prática política de qualidade ou porque caiu no
esquecimento. Sim, é contraditório: ficar na memória por cair no esquecimento -
coisa do Brasil - mas o assunto agora é outro.
Em junho, quase que como um reflexo
dos eventos ocorridos em São Paulo, Minas Gerais teve sua dose de movimentos
sociais. Inicialmente pacíficos, contudo tomando o mesmo rumo do restante do
país: confrontos entre manifestantes e policiais, depredações e uma série de
extravazamentos emocionais dos menos cautos. Lembro-me de pessoas pedindo que
ao invés de tantos investimentos feitos no Mineirão e em suas imediações que se
investissem na saúde pública. Lembro-me das pessoas quebrando a obra do BRT (Bus Rapid Transit) na
Avenida Antônio Carlos (arredores do estádio Governador Magalhães Pinto) e
bradando que queriam mais quilômetros de metrô, e mais vagões é claro! Vi naquele junho
gente querendo invadir o perímetro FIFA! Santo Deus, que caos foi aquilo, mas
eu vibrei. Confesso que não vibro novamente. Depois de ontem, não.
Não torço para nenhum time. Não tenho
paciência para futebol. São noventa minutos! Então não me venha com aquela
"ah ele é atleticano". Ontem os mineiros pararam a cidade e se
submeteram ao outrora odiado padrão FIFA. Utilizaram as dependências do
Mineirão da mesma maneira como estavam dispostas para a Copa das Confederações:
tiveram que parar seus carros longe demais do estádio, pagaram valores exorbitantes
para assistirem o tal clássico do Cruzeiro contra o Grêmio, usaram os ônibus e
os poucos vagões de metrô sem reclamarem e comeram o tradicional feijão
tropeiro do Mineirão. Dessa vez foi só isso. Ninguém lemboru do SUS. Apenas
fizeram festa fechando o trânsito, tumultuando a praça da Estação e a praça
Sete (antigo ponto de encontro para as manifestações de junho) com muita
cerveja. Nada diferente do que ocorre em todos os outros estados da nação. Apesar
de alguns críticos esportivos torcerem o nariz Minas é filha do futebol
brasileiro, ora bolas!
Costumo dizer que as pessoas
esquecidas são pessoas bem resolvidas. Mas não se confundam, meus caros. Essa
minha frase se aplica apenas às questões existenciais. Na política isso não se
aplica! Eu tenho absoluta certeza de que no ano que vem haverá novos protestos
por ocasião da Copa do Mundo. E haverá novos confrontos com as polícias, e
haverá novos programas emergenciais tipo "mais alguma coisa". E
haverá paz em outubro. Porque em outubro não nos lembraremos mais da Copa e a
governabilidade se manterá. É assim que se constrói um país: com esquecimento.
Esse é nosso futebol!
E é por isso que eu digo: seja bem-vinda senhora FIFA, nos esquecemos de você uma vez, podemos esquecer de novo.
RJ