segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Minas, o futebol tupiniquim e as boas-vindas à FIFA , por Raphael Juliano.



            No último domingo eu não esperava nada diferente. A decisão do campeonato brasileiro em Minas trouxe à tona a minha tristeza e  desesperança. Isso porque lembrei-me de junho, um mês que como já escrevi antes, ficará na memória deste país ou porque resultará em prática política de qualidade ou porque caiu no esquecimento. Sim, é contraditório: ficar na memória por cair no esquecimento - coisa do Brasil - mas o assunto agora é outro.
            Em junho, quase que como um reflexo dos eventos ocorridos em São Paulo, Minas Gerais teve sua dose de movimentos sociais. Inicialmente pacíficos, contudo tomando o mesmo rumo do restante do país: confrontos entre manifestantes e policiais, depredações e uma série de extravazamentos emocionais dos menos cautos. Lembro-me de pessoas pedindo que ao invés de tantos investimentos feitos no Mineirão e em suas imediações que se investissem na saúde pública. Lembro-me das pessoas quebrando a obra do BRT (Bus Rapid Transit) na Avenida Antônio Carlos (arredores do estádio Governador Magalhães Pinto) e bradando que queriam mais quilômetros de  metrô, e mais vagões é claro! Vi naquele junho gente querendo invadir o perímetro FIFA! Santo Deus, que caos foi aquilo, mas eu vibrei. Confesso que não vibro novamente. Depois de ontem, não.
            Não torço para nenhum time. Não tenho paciência para futebol. São noventa minutos! Então não me venha com aquela "ah ele é atleticano". Ontem os mineiros pararam a cidade e se submeteram ao outrora odiado padrão FIFA. Utilizaram as dependências do Mineirão da mesma maneira como estavam dispostas para a Copa das Confederações: tiveram que parar seus carros longe demais do estádio, pagaram valores exorbitantes para assistirem o tal clássico do Cruzeiro contra o Grêmio, usaram os ônibus e os poucos vagões de metrô sem reclamarem e comeram o tradicional feijão tropeiro do Mineirão. Dessa vez foi só isso. Ninguém lemboru do SUS. Apenas fizeram festa fechando o trânsito, tumultuando a praça da Estação e a praça Sete (antigo ponto de encontro para as manifestações de junho) com muita cerveja. Nada diferente do que ocorre em todos os outros estados da nação. Apesar de alguns críticos esportivos torcerem o nariz Minas é filha do futebol brasileiro, ora bolas!
            Costumo dizer que as pessoas esquecidas são pessoas bem resolvidas. Mas não se confundam, meus caros. Essa minha frase se aplica apenas às questões existenciais. Na política isso não se aplica! Eu tenho absoluta certeza de que no ano que vem haverá novos protestos por ocasião da Copa do Mundo. E haverá novos confrontos com as polícias, e haverá novos programas emergenciais tipo "mais alguma coisa". E haverá paz em outubro. Porque em outubro não nos lembraremos mais da Copa e a governabilidade se manterá. É assim que se constrói um país: com esquecimento. Esse é nosso futebol!
            E é por isso que eu digo: seja bem-vinda senhora FIFA, nos esquecemos de você uma vez, podemos esquecer de novo.
                                                                                                                                    RJ