Recentemente assisti ao documentário
de Tom Shadyac, “I AM”. Confesso que fazia tempo que não via algo que retratava
tanto meu pensamento. Depois de um trauma, o diretor famoso redimensiona sua
vida e vai em busca de respostas para duas questões básicas:”O que está errado
no mundo?” e “Que podemos fazer sobre isso?”
Em um mundo que nos estimula a
consumir e a sermos carreiristas a obra em comento é uma contestação.
Não há tempo para sermos felizes em
plenitude. Desde que nascemos somos treinados para sermos os melhores e para
consumirmos tudo, inclusive relações humanas. Em todas as instituições percebo
as pessoas sendo estimuladas ao carreirismo. Na igreja os seminaristas querem
ser bispos, nos quartéis os soldados querem ser coronéis, na iniciativa privada
o estoquista quer ser gerente geral e na universidade o graduado quer ser
doutor.
O consumo é tão facilitado que
podemos fazer sexo e dividir no cartão de crédito em dez vezes. Somos
estimulados a consumir tudo. O advento da internet, e as redes sociais, nos
bombardeiam com uma gama tão intensa de informações que se não consumirmos nos
sentimos mal. Somos obrigados a consumir inclusive informação. Parece que a
vida depende daquilo que compramos. Parece que a vida depende do cargo que
galgamos na nossa empresa. Felicidade é isso: consumir e competir.
Digo para você, meu caro. Discordo.
Felicidade é bem mais do que ter uma relação com a propriedade privada.
Felicidade é bem mais do que estar no topo. Felicidade é ter um caso de amor
com a vida e com as pessoas. Felicidade é integrar o erro ao ser e se
redescobrir enquanto ser humano. Claro que essa é uma história individual. Cada
um tem que fazer sua estrada. A questão é: e quando completarmos sessenta anos?
E setenta? Ainda haverá o sonho do melhor carro e do melhor cargo? Se não
redescobrirmos em nós a beleza da vida, da simplicidade de ser, das prosas de
varanda, de um livro ou filme, estamos fadados a um fim solitário e triste. Isso
porque as coisas e a competição por elas não podem substituir a essência do
homem. Essa falsa ideia é perigosa porque não há recursos para comprar tudo.
Não espaço no topo para todos. E na medida em que internalizamos a lógica da
competição e do consumismo corremos o risco de nos frustrar.
Tenho redescoberto a beleza do ócio,
da rotina, da lentidão. Tenho redescoberto a beleza de um bom café com amigos
queridos. Tenho encontrado algumas pessoas com os mesmos propósitos. Poucas
pessoas, mas pessoas que quero manter por perto, pois ao chegar aos sessenta ou
setenta desejo aproveitar dessas belezas que redescobri.
Fui treinado para ser carreirista.
Fui treinado para comprar. Sou um péssimo aluno. Não aprendi bem, não entendi a
lição.
RJ
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