Folheando
as páginas da internet no dia dois deste mês li uma matéria no jornal Estado de
Minas na qual dizia que o Papa e outros líderes
religiosos assinaram um acordo pela erradicação da escravidão até 2020. Quando
li a manchete confesso que fiquei pensativo. Lembrei-me do processo, gradual,
de abolição do trabalho escravo que se iniciou no Brasil em 1850. É, não
acabou. Nem aqui nem lá fora. Ainda exploramos o outro. Ainda queremos ganhar
dinheiro sobre o trabalho alheio, com o menor esforço possível.
Quando
o Brasil regulou a atividade de empregada doméstica, li enxurradas de mensagens, impregnadas pelo senso comum, de que seria impossível manter uma "secretária" (que eufemismo
estúpido), pagando salário mínimo e benefícios. Na
verdade, elas sempre deveriam ter sido tratadas
como qualquer trabalhador, mas nós, em nome do papel ao qual chamamos de dinheiro, deliberadamente escolhemos explorá-las. Sim, a escravidão está em
nossos quintais, nos nossos sítios, nas nossas lanchonetes, no restaurante onde
almoçamos, nos supermercados onde compramos. Basta parar um minuto e perceber
ao redor. A todo momento tentamos explorar o outro. A todo momento tentamos
lucrar. Ou você acha que trabalhar aos domingos e feriados, de 10 as
22 horas, com folga apenas na segunda-feira, para ganhar oitocentos reais por
mês não é trabalho escravo? Não. Não é mentira. Convivo com pessoas que são
exploradas assim. E constantemente elas se perguntam se é melhor ganhar isso
sendo exploradas aqui (em sua terra natal) ou ganhar um pouco mais em libras e
serem exploradas em Londres, trabalhando vinte horas por dia (e por noite).
Francisco
está certo. Temos que continuar o processo de abolição do trabalho escravo.
Contudo o prazo está apertado - eita Papa apressado. O ano praticamente acabou e, pelas contas dele, temos cinco anos de luta pela frente. Admiro o otimismo de Bergoglio. Mas
talvez nunca erradiquemos o trabalho forçado e o tráfico de pessoas para tal. A
nossa lógica é outra! Afinal, quem é que vai limpar nossa privada?
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