Estados Unidos, Japão, Cuba, Camarões, Egito, Emirados Árabes estão na lista dos mais de sessenta países que adotam a pena de morte. No último dia 18 o brasileiro Marco Archer foi executado na Indonésia por tráfico de drogas. Todos já sabemos da história. Ele estava preso desde 2004. E para mim são essas as duas questões que camuflam o oportunismo de todos nós que achamos que foi bem feito ou que somos contra: mais de sessenta países no globo possuem a pena de morte em seus arcabouços jurídicos e o fato do nosso compatriota estar preso há dez anos.
Sim, é oportunismo político, virtual, legal e filosófico voltar o olhar para a Indonésia enquanto o Irã condena à morte estupradores. É oportunismo questionar o arcabouço jurídico dos indonésios enquanto vários países da África e da Ásia executam homossexuais. Todo tipo de opinião isolada nesse contexto parece ser tendenciosa e promíscua. Afetada pela velocidade com a qual as informações chegam para nós e da forma como chegam. Ao invés de tratar a pena de morte como fato isolado na medida em que ela acontece e é noticiada, deveríamos considerar com mais seriedade os tratados internacionais que, não violando as soberanias nacionais, colocam-se como mecanismos de discussão sobre questões que não transcendem culturas, mas ao contrário percebem a riqueza da comunidade global e buscam harmonizá-la. É leviano, nesse momento, se colocar simplesmente a favor ou contra a morte de Archer.
Dez anos! O que nossa embaixada fez por Archer nesses dez anos antes de ser chamada de volta ao Brasil? Seis pedidos de clemência ao que tudo indica. Fez o que tinha que ser feito do nosso ponto de vista jurídico, mas desrespeitou a Indonésia ao se retirar. Desrespeita os que estão nos corredores da morte nos EUA, no Egito (mesmo que não sejam brasileiros) e em todos os países onde temos representações diplomáticas ao não chamá-las de volta ao Brasil. Ou a questão é apenas (não tenho a intenção de ser debochado quando uso a palavra "apenas") Archer? Para mim, soa leviano celebrar tratados internacionais de defesa dos direitos humanos, pedir clemência seis vezes em dez anos, assinar acordos comerciais com diversos países que possuem a pena de morte e retirar o embaixador tupiniquim da Indonésia depois da execução do surfista-traficante.
Quando eu assisti O expresso da meia-noite, saga de um jovem estadunidense que é preso, e condenado a trinta anos de cárcere, quando tenta sair com haxixe da Turquia, senti profunda empatia pelo protagonista. No caso de Marco Archer não. A imprensa, os internautas e o governo brasileiro me fizeram sentir nojo (do episódio).
Talvez se houvesse seriedade na discussão sobre a pena de morte e o Direito Internacional o expresso da meia noite de Archer teria um outro final.
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