domingo, 27 de janeiro de 2013

Impressões sobre o filme Django Livre, de Quentin Tarantino




            No último sábado tentei assistir “Django Livre”, porém só consegui ingressos para quarta-feira dia vinte e três. Confesso que estava ansioso para rever Tarantino por detrás das câmeras. Ultimamente tenho revisitado seu “Cães de Aluguel” para matar a saudade.
            O filme começa com um Django submisso e acorrentado, completamente fora de si (não no sentido de insano, mas de senhorio) para mostrar o amadurecimento daquele que se tornaria nas palavras do Dr. Schultz (Christolph Waltz) “o gatilho mais rápido do Sul”. Jamie Foxx se investe de uma pseudo pureza estranha no início da película e é levado pelo Dr. King Schultz a “sujar as mãos” naquele cenário de escravidão western. A percepção que se tem é a de que Django se liberta da hipocrisia silenciosa em uma América escravista e dá vazão a toda sua violência interesseira. Isso fica bem explícito quando em uma cena onde um escravo é comido por cães (algo especialmente tarantiniano) e o Dr. Schultz tenta salvá-lo, Django (Jamie Foxx) não demonstra sentimentos de compaixão e ao ser interrogado pelo personagem de DiCaprio sobre sua indiferença responde: “Estou um pouco mais habituado a América do que o Dr. King”. Talvez Django seja o representante mais farto de todo um passado sombrio e repugnante da América. Isso porque não existem mocinhos e vilões no filme. E Django definitivamente não é um mocinho!
            Na verdade foi Christolph Waltz quem mais me impressionou na trama. Apesar das excelentes encarnações de Samuel L. Jackson, Leonardo DiCaprio e Foxx, Waltz conseguiu dar um tom elegantemente trágico à trajetória do Dr. King. Talvez ele seja a voz mais sóbria da película: um caçador de recompensas que vende os corpos de homens maus. Tarantino consegue de maneira extravagantemente pop demonstrar, através do Dr. King, que a existência é apenas uma questão de circunstâncias. Como todos seus filmes estão entrelaçados como uma espécie de massa compacta é impossível não recorrer a “Bastardos Inglórios” e lembrar que Waltz era um oficial do exército alemão que caçava judeus e agora é um sulista partidário da abolição da escravatura. Talvez seja demais pensar que Quentin Tarantino orquestrou essa ideia. Talvez seja demais pensar que ele só queria homenagear seus filmes prediletos do gênero western spaghetti (bang bang à italiana), mas nada é demais em se tratando de Tarantino: os excessos, as legendas inopinadas, o emendar de um assobio de western com um batidão de hip hop, uma piadinha após os créditos, a vilania pueril e sádica representada por DiCaprio (Candie)... “Django Livre” está plenamente recheado de elementos da filmografia do seu diretor.
            Falando em elemento de direção, vi um Tarantino ainda mais maduro com recortes de cenas epifânicas e construção de personagens extremamente ambíguos, que se demonstram ao longo do filme como verdadeiros seres decadentes em suas escolhas e caminhos. A crítica social em “Django Livre” é bem sutil. Tarantino não se preocupa com isso de maneira explícita. Como grande diretor pop ele nunca quis ser a voz de qualquer consciência coletiva. Ele apenas aponta brevemente sobre a efemeridade das circunstâncias humanas e sobre uma América podre que utilizava os negros para toda sorte de obtenção de lucros: lutas, trabalho, favores sexuais...
            A violência é um ícone à parte. Muito sangue (quase trash - não me crucifiquem) insultando qualquer um que não esteja acostumado ao tipo do cineasta. Existe sangue até nas legendas dos créditos finais. Claro, um elogio do diretor à violência seja ela vinda de onde quer que seja: gratuita ou justificada... é sempre violência!
            Tarantino nos dá a cara como ator em uma ponta de uma cena literalmente explosiva (risos). É melhor que ele continue atrás das câmeras porque é um péssimo ator.
            Alguns estão criticando os personagens femininos fracos e cartunescos de “Django Livre”, mas a proposta não seria exatamente essa? Uma donzela nigger para ser salva por um Django nigger? Concordo que a irmã de Candie é apenas uma sombra no longa para demonstrar a habitação na casa grande por alguém consanguíneo do clã da vilania. Não justificaria o negro Stephen (Jackson) viver ali sozinho. Ele precisava ser serviçal de alguém! E aí entra a Srta. Candie.
            Li alguma coisa a respeito do filme em um blog que dizia que o forte de Tarantino não são os diálogos, e sim a violência. Discordo! Todas as cenas tarantinescas são precedidas de longos diálogos onde prevalecem sarcasmo, elegância e, sobretudo revelação: a revelação do porvir. Mas isso é só para os mais atentos. Digo isso porque pressenti a morte de vários personagens do filme depois da fala de um deles: “Eu não pude resistir”. Eu estava muito atento nas três horas de filme!!
            Sei que sou suspeito para escrever sobre Tarantino, mas qualquer excesso é coisa de um mero admirador.
                                                                                                                         Raphael Juiano  27/01/13
           

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