sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Bukowski e a decadência


                É o terceiro livro de Charles Bukowski que leio: Mulheres, depois de Cartas na Rua e Factótum. Penso que a grande sacada do escritor alemão apaixonado por Los Angeles é descrever a decadência com um charme que nos empolga, talvez porque esta seja a sina de todos nós. A cidade e as pessoas para Bukowski, que usa Henry Chinaski como seu alter ego, estão em constante desconstrução. Não há enlatamentos. Os vícios acabam sendo um componente idêntico à virtude no comportamento humano para o velho Chinaski.
                A cultura judaico-cristã, assim como outras em suas épocas e geografias, fez com que nós ocidentais desprezássemos o que é humano e natural. Sei que isso é um tormento para a maioria das pessoas. O controle social às vezes é tão asfixiante quanto fumaça, por isso insisto com quem converso: "leiam Bukowski".
                Evidentemente a decadência tem sua tragedia. Conheço bem o centro de Belo Horizonte. Conheço pessoas que moram e moraram ali. Conheço pessoas que vivem à margem, decadentes, quebrando-se sob o som do caos. Alcoólatras, drogaditos, garotas e garotos de programa, ladrões, muambeiros, travestis, todos sentindo o peso da cidade e dando a esta a mesma energia, de maneira inversa e proporcional. O fato é que o trágico faz parte do universo humano e o escritor sabe como narrar isso sem ter que apelar para uma saga de vampiros (nada contra, adoro vampiros). Os diálogos curtos atolados de desdém fascinam qualquer leitor. Creio que ele soube o que escrever porque soube o que viver. O grande velho safado sentiu a beleza da decadência e a encarnou no papel.

                Talvez minha predileção por ele seja devido a isso, como os gregos, mas de sua maneira, Charles Bukowski enxergava a beleza da tragedia na decadência.

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