É o
terceiro livro de Charles Bukowski que leio: Mulheres, depois de Cartas na
Rua e Factótum. Penso que a
grande sacada do escritor alemão apaixonado por Los Angeles é descrever a
decadência com um charme que nos empolga, talvez porque esta seja a sina de
todos nós. A cidade e as pessoas para Bukowski, que usa Henry Chinaski como seu
alter ego, estão em constante desconstrução. Não há enlatamentos. Os vícios
acabam sendo um componente idêntico à virtude no comportamento humano para o
velho Chinaski.
A
cultura judaico-cristã, assim como outras em suas épocas e geografias, fez com
que nós ocidentais desprezássemos o que é humano e natural. Sei que isso é um tormento
para a maioria das pessoas. O controle social às vezes é tão asfixiante quanto
fumaça, por isso insisto com quem converso: "leiam Bukowski".
Evidentemente
a decadência tem sua tragedia. Conheço bem o centro de Belo Horizonte. Conheço
pessoas que moram e moraram ali. Conheço pessoas que vivem à margem,
decadentes, quebrando-se sob o som do caos. Alcoólatras, drogaditos, garotas e
garotos de programa, ladrões, muambeiros, travestis, todos sentindo o peso da
cidade e dando a esta a mesma energia, de maneira inversa e proporcional. O
fato é que o trágico faz parte do universo humano e o escritor sabe como narrar
isso sem ter que apelar para uma saga de vampiros (nada contra, adoro
vampiros). Os diálogos curtos atolados de desdém fascinam qualquer leitor.
Creio que ele soube o que escrever porque soube o que viver. O grande velho
safado sentiu a beleza da decadência e a encarnou no papel.
Talvez
minha predileção por ele seja devido a isso, como os gregos, mas de sua maneira,
Charles Bukowski enxergava a beleza da tragedia na decadência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário