Na última quinta-feira Patrícia Moreira, de vinte e três anos, gritava em alto e bom som durante a derrota do Grêmio para o Santos: "macaco". Ela referia-se ao goleiro Aranha, do time perdedor.
Ontem um garoto de doze anos foi barrado pela diretora da escola Municipal onde estuda, no Rio de Janeiro, por ter aderido ao Candomblé. O menino usava guias, contas coloridas usadas no pescoço que distinguem a qual orixá pertence cada indivíduo adepto da religião.
Dois motivos fortes para não me alegrar com esse mundo. Aqui as pessoas parecem não ter o direito de ser aquilo que são ou aquilo que escolheram ser. Todavia o que mais me assusta é o fato dessa segregação, que parte de uma ideia padrão, muitas vezes se originar no espaço do lúdico, sobretudo do lúdico que vendemos, o futebol, bem como no ambiente público, do Estado.
Sim, Patrícia, é humilhante chamar um negro de macaco tanto quanto seria chamar uma branca como você de vaca. Percebe?
Sim, senhora Diretora da Escola Municipal Francisco Campos, é uma aberração proibir um aluno de entrar no educandário por causa da sua religião, tanto quanto seria não pensar em uma política salarial justa para sua categoria. Percebe?
Questões como o racismo ou a fragilidade da laicidade do Estado já deveriam ser pautas superadas. Procuro argumentos em favor das duas mulheres e não encontro. O anonimato do estádio de futebol? A historicidade de nossa cultura judaico-cristã? Não. Não é aceitável. E o pior de tudo é ter a plena consciência que existem muitas Patrícias. É saber que o crucifixo aparece ostensivo na entrada principal de muitos espaços públicos, apartando do direito quem precisa dele. Tempos difíceis!
Esperança? Se tenho esperança? Duas coisas me fazem querer ter esperança. São resoluções pessoais. A primeira é não torcer para time de futebol e a outra é não votar em candidatos religiosos. Então o que tenho para hoje, como diria o saudoso Rubem Alves, "é a possibilidade da esperança."
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