A história tem mostrado que uma de
nossas características mais evidentes é não saber conviver com o planeta. O afã
desenvolvimentista e consumista do ser humano tem impactado o ambiente que nos
abriga. Outrora consumido em guerras, ainda presentes, todavia redimensionadas,
a Terra hoje sucumbi sob a égide de uma lógica perversa: a descartabilidade.
Na direção contrária à permacultura,
sustentabilidade social e economicamente justa, os assentamentos humanos
internalizaram uma relação fast food com o espaço no qual vivem. Sim,
parece que não há tempo. A pressa impera. Temos que explorar o planeta até a
escassez dos recursos que não se renovam. E tudo isso em nome de uma fictícia
qualidade de vida. Não andamos mais a pé. Não subimos escadas. Esquecemos
nossas bicicletas nos porões. Gastamos mais água para produzir uma garrafa de
plástico de 500 ml, do que a própria quantidade de água contida ali. Não há
lixeiras a cada quarteirão e isso nos dá o falso direito de jogarmos o papel de
bala no chão. Temos três carros na garagem da mesma casa e a cada amanhecer
cada um pega o seu veículo para um destino, que tantas vezes é na mesma
direção. Compramos um par de calçados a cada mês como se fôssemos centopeias. E
tudo isso sem percebermos que estamos levando nosso habitat ao limite. A
Terra é um sistema fechado e todas as transformações naturais que presenciamos
não são normais porque ela não troca matérias com o universo.
Não se trata aqui de ser um 'eco
chato', mas sim de observar que existe uma relação desigual. E nas relações
desiguais há duas tendências básicas: ou o que é mais exigido expurga o outro
quando não dá conta, ou o que mais exige sucumbe quando não é satisfeito. Nesse
contexto, qualquer um dos caminhos é perigoso.
Descartamos as estações do ano,
descartamos a camada de ozônio, descartamos a mobilidade e agora descartamos o
Velho Chico. Achamos que podemos descartar a 'mãe natureza', mas estamos
enganados. Há tempos ela nos percebe como à um corpo estranho, e lentamente vai
corrigindo seu erro. Vai nos expurgando.
Se eu fosse a Terra não seria tão
piedosa, corrigiria tudo antes que descartemos de vez a foz do São Francisco em
seu belo encontro com o mar.
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