segunda-feira, 23 de maio de 2011

Texto "Ainda bem que você se converteu, fariseu", por Raphael Juiano


     Outro dia estava em uma reunião, e como nas várias reuniões que frequento, havia um palestrante, professor, moderador ou sei lá o quê à frente conduzindo a discussão. Essas reuniões, diga-se de passagem, são bem produtivas. Uma das mais produtivas foi aquela na qual José Wilker estava à frente, ou ao centro, sei lá. Pois bem, voltando à última das reuniões, um homem que admiro conduzia uma bela reflexão. Essa pessoa é graduada em Teologia, leciona na área, tem uma escola infantil e se diz cristão.
     Em dado momento, entramos na questão do pseudo-casamento gay, que supostamente foi aprovado no Brasil. Chamo pseudo porque é pseudo!De antemão já fiz uma de minhas caras e bocas, porque não existe no nosso país casamento gay. O que há na verdade é a intenção legislativa de se fazer um contrato entre as partes de um relacionamento homoerótico para que em caso de futuras demandas judiciais, pela morte de um dos interessados ou desacordo relacional de ambos, ninguém seja prejudicado no que tange ao Direito Civil. Então não se fala aqui de Direito da Família, ou mesmo do Direito estar invadindo os altares das denominações religiosas destas terras tupiniquins. O que temos é o respaldo jurídico para pessoas que constroem um patrimônio juntas. Para dois sócios! Agora se eles transam, isso não é problema do Direito.
     Bem, em dado momento da análise desse novo texto jurídico, o moderador disse: "Quando eu era mais jovem, quando passava um efeminado perto de minha casa, eu e meus amigos cantavámos um corinho:bichinha, bichinha". Olhei desconfiado para aquele nobre palestrante e pensei:Ele não se diz cristão?O Cristo, que ele diz seguir, não acolheu a todos e a todas? Inclusive quem barganhava sexo?Nesse momento lembrei-me que um dos evangelistas que sempre gostei de ler desde os meus tempos de conventual do Carmelo, Mateus, era um homem a serviço de Roma. Ele era um publicano. Explorava Israel cobrando altos impostos em nome do imperador romano. Lembrei-me que Mateus só escreveu a biografia de Jesus, muito provavelmente, porque este decidira almoçar na casa daquele. É, eu sei. Os fariseus se escandalizaram (risos). Devem ter pensando: "O cara se diz Deus e vai almoçar na casa desse cobradorzinho de impostos?"
     Talvez você se escandalize ao ler este texto. Talvez você entenda que é um manifesto homoafetivo. Talvez você creia que meu amigo moderador daquela noite deveria continuar gritando seu corinho quando visse um efeminado. Mas talvez você nunca entenda que existe um princípio básico que rege o cosmos: ação gera reação. Intransigência gera intransigência. Acolhida gera acolhida. Isso é básico!Mas não para os fariseus.
     Continuei observando os rumos da triste discussão que veio à tona naquela noite. Triste porque todos meteram os pés pelas mãos e achando-me a única voz sóbria, me vi também cheio de soberba e por isso ao final daquele diálogo eu só pensei, confesso que não falei....mas só pensei: AINDA BEM QUE VOCÊ SE CONVERTEU, FARISEU. (risos)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Texto "É possível a relação de amor se tornar um peso??" (Desconhecido)

Costumo dizer que ao invés de historiador deveria ter sido psicólogo ou Padre.
Muitos – alguns amigos e familiares – procuram-me para desabafar. Na maioria das vezes casais – ou ao menos um deles. Os problemas são muitos e parecidos:

Estou casada há 15 anos, não agüento mais meu marido. Ele não me ajuda, deixa todo o trabalho da casa e dos filhos nas minhas costas. Amanhece o dia com grosseria e quando chega a noite ainda quer sexo.
Meu marido só pensa em sexo.
Minha esposa só sabe reclamar: reclama que gasto muito, que bebo muito, que gosto muito de sexo, que dou mais atenção aos amigos que a ela.
Meu marido não me enxerga, na verdade ele só me vê como uma boneca inflável.
Minha mulher, meu marido gasta muito, estoura o orçamento do mês.
Meu marido é um alcoólatra, não agüento mais.

E as reclamações vão se multiplicando. Na maioria das vezes percebo que depois de um tempo de casamento/convivência marido e mulher apenas se suportam, se toleram. A relação se torna um peso. Alguns e algumas me perguntam se o melhor é separar-se. Pergunta difícil. Resposta ainda mais difícil.
Acredito que em alguns casos depois de muitos anos e de uma série de desgaste, de várias tentativas o melhor é libertar-se mutuamente para reencontrar a felicidade.
Mas, de verdade talvez o melhor não seja terminar o que um dia foi tão bonito e rico de amor, alegria e felicidade.
Às vezes é necessária uma transformação. Um começar de novo. Um tentar entender que embora tendo desgastes é possível ´voltar ao primeiro amor’. Aquele tempo de gentilezas, delicadezas, presentes e presenças. Uma nova viagem de lua de mel. Uma noite inesquecível em um motel com direito a todas as regalias. Um presente inesperado. Uma visita fora de hora. Enfim, artifícios para reacender aquela chama – que se um dia existiu é possível que volte a fumegar.
O tempo é um grande aliado que temos. Cura feridas. Liberta ‘ prisioneiros’. Amadurece a alma. Mas, é também um inimigo. Pode desgastar os amores.
Por isto gosto sempre de pensar na frase de Adélia Prado: “ O que a memória ama se torna eterno”! E eternizado, só nos resta buscar esse amado, esse eterno. Quando se ama nada é peso, mas antes muito leve.

Texto: "LIDERANÇA NÃO É PARA CRIANÇA", de Marcelo Quintela (Caminho da Graça).


O LÍDER é sempre o primeiro a pisar o território inimigo, e o último a deixar o campo de batalhas.

O LÍDER não deve deixar os feridos pelo meio do caminho, mas cuida-lhe dos ferimentos, mesmo que isso pareça comprometer o avançar da batalha.

O LÍDER é líder de gente, não de coisas. Ele constrói relacionamentos, não prédios, ele fica no meio do povo, não atrás da mesa. Ele é uma pessoa e não um robô. Ele é um santo, não um anjo.

Ele se preocupa em atacar o inimigo, e não ao outro. Pois, na guerra espiritual na qual está envolvido, ele bem sabe que seu adversário não é de carne e osso, e por isso, não aponta suas armas contra si mesmo.

O LÍDER não pode exigir o que não consegue ser ou fazer. Não deve impor sobre os ombros dos outros os fardos que ele mesmo não consegue carregar.

O LÍDER não pode aproveitar-se de sua posição para massacrar mentalidades mais fracas, para “entrar rasgando”, para estuprar a alma carente de tão perdida e já invadida pela vida ímpia.

O LÍDER só pode indicar o caminho a seguir. Ele não pode decidir pelo outro. Ele toma pequeninos pela mão, mas não os empurra e nem força ninguém a fazer escolhas. Ele deixa as pessoas crescerem.

O LÍDER não convence na marra, não usa de ameaças e persuasão, não intimida criancinhas, não é um tirano. O LÍDER é capaz de ser doce, sem ser permissivo! Não é um vovô bonachão que fica distribuindo pirulitos, mas também não é um pai tão severo quanto ausente.

O LÍDER não fica procurando em quem bater: não sai metendo o pé em barracas, caçando orelhas para puxar, gente para envergonhar, para expor, punir, apontar o dedo. Ele não “chuta o balde”, a não ser com os cínicos, com os que vendem religião, com os que comercializam a fé, com os desconvertidos mal-intencionados.

O LÍDER considera o outro superior a si mesmo, ele valoriza o “insignificante”, ele honra os anônimos, ele ama os fracos, e se esforça por não escandalizá-los. Ele se faz um igual.

O LÍDER é mais que um diácono, mais que um ancião, ministro ou presbítero, é mais que um auto-denominado bispo ou apóstolo. Ele é um filho amado do Pai, irmão de seus irmãos, que os serve com seus dons. Serve sem procurar ser servido.

O LÍDER tem convicções, mas isso não significa que não possa mudar, abrir mão, repensar. O LÍDER NÃO É INFALÍVEL! Ele não tem sempre os melhores planos e conselhos (para muitos, idéias são como crianças: As nossas são sempre melhores).

O LÍDER pode rever seus conceitos, admitir falhas sem ter vergonha. Ele aprende com o passado, sem ficar nele. Ele olha para o futuro, mas não vive nas nuvens das ilusões infantilizadas.

O LÍDER deixa os outros terem idéias também, ele não é a origem de tudo, a fonte de tudo, não possui inspiração exclusiva, discernimento permanente.

O LÍDER, quando fala, fala a verdade. Ele é transparente, autêntico. E quando a verdade doí, ele a fala com dor. Como quem não quisesse falar, confrontar. Ele precisa expor a verdade, mas ele não faz isso pra rachar, pra quebrar de vez.

O LÍDER não fica cavando pecados alheios para se divertir com eles. Ele olha primeiro para dentro de si, e sonda diariamente seu coração de crente.

O LÍDER não pode apedrejar ninguém, salvo exceção: os líderes que não tem pecado! Esses podem castigar, “depenar” e escarniçar os pecadores.

O LÍDER não pode ficar preocupado com sua reputação. Ele precisa encarar com naturalidade ser alvo de críticas e pré-julgamentos. Ele precisa saber acolher, abraçar e beijar até os que, ocultamente, não retém suas línguas afiadas.

O LÍDER, porém, também não é escravo de seu comportamento. Ele não é um ator. O LÍDER não precisa fazer caras e bocas. Precisa ter uma só face, sem mascaramentos. Não deve ser ora sim, ora não, de acordo com a conveniência.

O LÍDER não precisa ter voz de líder, roupa de líder, postura de líder, olhar de líder. O LÍDER precisa ter coração de servo, vestes brancas, joelhos flexionados e olhos de compaixão.

O LÍDER não precisa gritar por respeito, testar a obediência, verificar o alcance de sua autoridade. Ele não precisa apresentar títulos, ostentar currículo, berrar sua posição.

O LÍDER não pode “chorar suas pitangas” pelos corredores, não pode se “empanelar”, fazer bico, montar fã-clube, ser parcial, tendencioso, político.

O LÍDER abre mão de seus direitos, raramente se defende. Ele defende sua Causa: o Reino! Ele não se glorifica. Ele glorifica seu Rei: Jesus!

O LÍDER não é auto-suficiente. Não é LÍDER de si mesmo. Professor de si mesmo. Pastor de si mesmo. Fã de si mesmo! Seu lema é DEPENDÊNCIA OU MORTE!

O LÍDER não é um super-heroí. Ele também chora, também cansa, também tem mau-humor, dias difíceis de tristeza e solidão. Ele também precisa de ombro do irmão e do colo do Pai.

O LÍDER precisa aprender a descansar, a parar, dar um tempo, refletir, sossegar o coração cansado, estar à sombra, retirar-se, reciclar-se, recostar-se aos pés de Mestre.

O LÍDER precisa saber frear-se, conter impulsões, controlar a vontade de tanto falar e pouco ouvir, a ânsia por dominar, argumentar, concluir, finalizar... colocar pontos finais. Precisa deixar uma margem de espaço para o outro caminhar sem opressão.

O LÍDER não ama e nem é amado por causa de seu desempenho. Ele não é um ativista, não deve se preocupar em agradar a todos, mas sempre a Deus.

O LÍDER busca ser fiel e não bem-sucedido. Ele sabe que obedecer é melhor que sacrificar. Líderes que não obedecem a Deus não podem ser obedecidos.

O LÍDER sabe que essa peleja não é café-com-leite, que a guerra (War) não é um jogo. A caminhada cristã não é de mentirinha. Sabe que a Igreja não é um tabuleiro, e as vidas não são peças de um game de estratégia.

Naquilo que Jesus chamou de “Sua Igreja” as hierarquias são horizontais e não verticais, e existem no sentido de servir com os dons ministeriais que todos reconhecem existir em tais irmãos; não havendo nenhuma liderança por imposição, ordenação, oficialização, sacramentação ou currículo teológico e político. Não. Em Cristo, os discípulos são “forçados” a compreender que os maiores servem os menores, e os maiores só são maiores porque se curvam para lavar aos pés daqueles que caminham pelo terreno arenoso da vida.

Pense nisso!

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Texto "Passeio Socrático", de Frei Betto.

"Ao viajar pelo Oriente mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente.

Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelo produz felicidade?'

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...'. 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse:

'Tenho aula de meditação!'

Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual.. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...

A palavra hoje é 'entretenimento'. Domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, calçar este tênis, ­usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios.

Quem resiste, aumenta a neurose.

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental, três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno...

Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático. Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: "ESTOU APENAS OBSERVANDO QUANTA COISA EXISTE DE QUE NÃO PRECISO PARA SER FELIZ!""

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Texto: Resíduos de uma memória póstuma, de Ricardo Gondim.

Sou primo de Brás Cubas. Igual a ele, também personagem de um romance, só que bem canhestro. Fui inventado por um escritor de segunda linha. Mesmo assim, sigo os passos de meu primo famoso e deixo as minhas memórias póstumas. Escolhi copiá-lo já que nunca tive coragem de ser cândido enquanto respirei. Embora um homem comum, sempre temi censuras. Por este simples motivo decidi escrever só depois que abandonei a vida

Amei e odiei como todos, mas, acorrentado ao cotidiano, não escapei de ser empurrado pelo ofício de sobreviver. Eu acreditei no imperativo de findar a jornada como modelo de sucesso. Assim, sonhei e trabalhei sem perceber a brevidade da vida.
Daqui, noto que me deixei encabrestar por escrúpulos sociais e domesticar por demandas religiosas. Pobre de mim, pacificado, a minha existência se esvaíu em uma homorragia lenta.

Agora morto, medito sobre o meu ativismo. Restaram-me estes olhos fatigados, fixos e cadavéricos. Vejo a estearina bruxuleante que acenderam para a última vigília e desperto: estas olheiras nasceram de minha constante responsabilidade. Desde a adolescência lutei por ideais que me cobravam forças onipotentes. Desprezei a sede pelo silêncio. Arfo pelo inefável. Tenho fome de beleza.

Onde estou, os espelhos são nítidos. Brilha uma claridade cristalina por todos os lados. Lembro-me dos mínimos detalhes e, como não tenho pressa, determino que vou encontrar-me. Não posso avinagrar o que restou na alma. Preciso integrar-me e descansar o coração. Espalho as circunstâncias vividas como peças de um tabuleiro para tentar dar algum sentido ao que experimentei.

Estabeleço que o tenhoque deixará de ser um jugo; o nãodevo, uma obrigação; o nãoposso, um tabu.

Quero ter a minha vida leve como uma pipa. Que o meu porvir seja intrépido como uma jangada feita com os galhos de um carvalho manso. Só agora estou seguro. Não preciso provar-me a uma divindade incontentável. Nenhuma guilhotina desceu sobre meu pescoço imaterial. Já não me sinto obrigado a defender um nome - não se traz qualquer notabilidade para esta dimensão. Sou anônimo entre anônimos.
Quando precisar escalar a próxima serra, não me considerarei um pusilânime. Prometo galgar todas as ladeiras sem fanfarrice. Sóbrio, pretendo encarar o porvir com mais cuidado.

Aprendi, tardiamente, que a minha jornada foi precária, as escolhas, provisórias e as certezas, imprecisas. - Oh, nunca imaginei que admitiria a minha debilidade! Há pouco, afirmava que só incompetentes e medíocres comentam os seus malogros. Porém, contemplo o meu corpo inerte, desfigurado, sem viço. Juro: - De agora em diante, marcharei um passo de cada vez, um pé na frente do outro – o mal de cada dia me bastará.
Por que não inspirei a beleza inútil que me rodeava? No estado de deslembrado, deixo de ser prático, dou de ombros para os lógicos e rio dos úteis. Estranho. Sinto-me satisfeito com as imagens imprecisas  que o coração guardou. Retalhos de momentos esparsos tornaram-se a minha pouca fonte de alegria.

Prometo: não serei leviano no próximo abraço, distraído na próxima conversa e jamais reticente diante do próximo afeto.
Acabei-me. Não quero lápide. Sei que vou amarelar nos álbuns de fotografia. Inconformado, grito, esbravejo e esmurro o chão: – Quero viver, quero viver, quero viver. Mas, dos confins da eternidade, ressoa: “Tarde demais”.

domingo, 8 de maio de 2011

Web-carta à Alê e Chico, em 17 de março de 2009: "Até breve".


1h53min

Meus amigos, hoje cheguei em casa antes de ir trabalhar e chorei muito.....Não sou uma pessoa de lágrimas, vocês sabem disso. A ocasião de sua ida, Chico, me deixa perplexo. Já me sinto sozinho entre as edificações de Belo Horizonte....já me sinto vazio sem seu jeito maroto de levar a vida. Aprendi muito com vocês dois e para mim é díficil lidar com a distância que acena. Espero que tudo dê certo para todos nós...espero que sejamos felizes, mesmo que só brevemente como o fomos neste fim de semana. Vocês dois me entendem....são aqueles que vêem minha alma, minhas angústias, minhas mazelas e encantos. Agradeço-lhes por isso.
     Hoje só pedi duas coisas a Deus, que você, Chico, não se fosse.....e que eu pudesse sentir no corpo a dor que sinto no coração.
     Agora, diante de sua partida, só me resta "um morango a beira do abismo", só me resta crer que estaremos juntos de novo um dia....."esperança sem razões", pelo menos agora!
     Amo vocês!
     R

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Véspera de aniversário...

    Hoje estou há um dia de meu 30º aniversário. Muios fatos vêem à mente. São momentos dificéis, experiências alegres, convivências que têem feito diferença em minha vida.
     Não gosto de festas de comemorações em aniversários. Não sei bem responder o porquê, talvez seja pelo mesmo motivo que eu me entristeça em algumas manhãs: saudades de anos que se passaram. Saudades de pessoas...saudades da inocência perdida.
     Nesta véspera tenho pensado nesses trinta anos que se passaram. Houve dias nos quais pensei que não completaria 30 anos, mas hoje sinto-me empossado no trono dos trintenários. Isso faz com que me sinta bem! Foram muitas pedras no caminho, muitas pessoas que se foram com imensa vontade de ficar, outras que ficaram, amigos que ainda querem ir.
     Nesse anos que se passaram posso citar dois dos três fatos que redimensionaram minha existência: minha experiência cristã no Carmelo (2000) e minha experiência como titio (2011). Sobre a outra vivência, talvez um dia eu escreva, ou talvez não. Talvez nem haja tempo prá isso.
     No tempo que passou nem sempre fui o personagem principal da minha estória, e por isso queria agradecer publicamente às pessoas que me ajudaram a entrar nos eixos: Meus amigos eternos, Alexandre Esteves e Chico. Um caiçara e amigo recente, Alexandre Gonçalves. Carol e Sam, meus escudeiros e irmãos! Rodrigo, Luana e Ramon, primos de todas as horas. Papai e Mamãe, pelos referencias que aprimorei da minha maneira. Vovô Toninho e Vovó Dinorá, meus velhinhos queridos. E Walmath, homem de construções e reconstruções.
     Deus...bem este sempre me coloca nos eixos, rs.

     Abraços carpedimianos....
     Raphael Juliano
p.s. Corri, sim, o risco de esquecer de alguém...mas desses, não poderia correr o risco de esquecer...

terça-feira, 3 de maio de 2011

Carpe Diem, o poema de Horácio

Colha o dia, confia o mínimo no amanhã.

Não perguntes, saber é proibido, o fim que os deuses darão a mim ou a você,

Leuconoe, com os adivinhos da Babilônia não brinque.

É melhor apenas lidar com o que cruza o seu caminho.

Se muitos invernos Júpiter te dará ou se este é o último, que agora bate nas rochas da praia com as ondas do mar.

Tirreno: seja sábio, beba seu vinho e para o curto prazo reescale suas esperanças.

Mesmo enquanto falamos, o tempo ciumento está fugindo de nós.

Colha o dia, confia o mínimo no amanhã.

Podemos sempre ser melhores. Basta pensarmos melhor.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Bin Laden morreu, mas os Osamas estão vivos!

     É muito triste ver uma nação se alegrar com a morte de um homem. Creio que mesmo quando, licitamente (legalmente), o Estado de Direito mata um ser humano, não há razões para comemorações.
     Osama Bin Laden era , sim, uma representação do mal no inconsciente coletivo da América e da Europa. Não quero defendê-lo como uma simples vítima de assasinato, mas pensar nas consequências que serão geradas à partir de sua morte. E nesse ponto, digo aos americanos: não há motivos para comemorações!
     No islamismo Bin Laden morreu como um mártir. Agora ele está com suas setenta e duas virgens em alguma dimensão espiritual que não sei deizer bem onde fica. Mas o fato é que nesse exato momento outros numerosos Obamas se levantam no Oriente tendo como motivação dois pressupostos básicos: seguir e retaliar.
     Ainda que Bin Laden não se explodiu em um ataque contra os "porcos yankes" (como diria um amigo,rs), ele morreu pela causa de seus comparsas, e não existe maior exemplo do que dar a vida pela causa que se defende. Fico tentando fazer uma comparação inútil entre o Al Qaeda e algumas filosofias e estilos de vida do Ocidente. Nós temos uma maneira estranha de encarar a morte. Temos muito medo, por mais que nos apeguemos a qualquer espiritualidade. Pelo menos a maioria de nós é assim. Eles não. São homens que vêem na morte um prêmio, uma maneira de se ligarem mais diretamente à sua religiosidade. E posso até observar uma espécie de galardão sexual nessa estória, afinal são setenta e duas virgens!
     O outro pressuposto é o da retaliação. Como os seguidores de Laden estão processando em suas mentes explosivas as comemorações americanas pela morte de seu líder?
     Existe um princípio básico dito por grande homens....Isaac Newton, Jesus: ação gera reação. Não existe dúvida de que a agressividade da ação dos milicianos de Obama produzirá frutos indigestos ao Ocidente.
     Qual o sentido em se comemorar a morte de Bin Laden? Qual o sentido em ocupar territórios no Oriente? Qual o sentido de tudo isso? Eu não posso responder a todas essas questões. E não quero cogitar aqui teorias de conspiração rasas. Eu ainda estou processando tudo isso, mas de algo já estou resolvido: depois desse Osama surgirão outros Osamas, mais dispostos e mais violentos. Vamos aguardar, porque esse é um princípio simples: o que se planta, se colhe!

     Raphael Juliano