Outro dia estava em uma reunião, e como nas várias reuniões que frequento, havia um palestrante, professor, moderador ou sei lá o quê à frente conduzindo a discussão. Essas reuniões, diga-se de passagem, são bem produtivas. Uma das mais produtivas foi aquela na qual José Wilker estava à frente, ou ao centro, sei lá. Pois bem, voltando à última das reuniões, um homem que admiro conduzia uma bela reflexão. Essa pessoa é graduada em Teologia, leciona na área, tem uma escola infantil e se diz cristão.
Em dado momento, entramos na questão do pseudo-casamento gay, que supostamente foi aprovado no Brasil. Chamo pseudo porque é pseudo!De antemão já fiz uma de minhas caras e bocas, porque não existe no nosso país casamento gay. O que há na verdade é a intenção legislativa de se fazer um contrato entre as partes de um relacionamento homoerótico para que em caso de futuras demandas judiciais, pela morte de um dos interessados ou desacordo relacional de ambos, ninguém seja prejudicado no que tange ao Direito Civil. Então não se fala aqui de Direito da Família, ou mesmo do Direito estar invadindo os altares das denominações religiosas destas terras tupiniquins. O que temos é o respaldo jurídico para pessoas que constroem um patrimônio juntas. Para dois sócios! Agora se eles transam, isso não é problema do Direito.
Bem, em dado momento da análise desse novo texto jurídico, o moderador disse: "Quando eu era mais jovem, quando passava um efeminado perto de minha casa, eu e meus amigos cantavámos um corinho:bichinha, bichinha". Olhei desconfiado para aquele nobre palestrante e pensei:Ele não se diz cristão?O Cristo, que ele diz seguir, não acolheu a todos e a todas? Inclusive quem barganhava sexo?Nesse momento lembrei-me que um dos evangelistas que sempre gostei de ler desde os meus tempos de conventual do Carmelo, Mateus, era um homem a serviço de Roma. Ele era um publicano. Explorava Israel cobrando altos impostos em nome do imperador romano. Lembrei-me que Mateus só escreveu a biografia de Jesus, muito provavelmente, porque este decidira almoçar na casa daquele. É, eu sei. Os fariseus se escandalizaram (risos). Devem ter pensando: "O cara se diz Deus e vai almoçar na casa desse cobradorzinho de impostos?"
Talvez você se escandalize ao ler este texto. Talvez você entenda que é um manifesto homoafetivo. Talvez você creia que meu amigo moderador daquela noite deveria continuar gritando seu corinho quando visse um efeminado. Mas talvez você nunca entenda que existe um princípio básico que rege o cosmos: ação gera reação. Intransigência gera intransigência. Acolhida gera acolhida. Isso é básico!Mas não para os fariseus.
Continuei observando os rumos da triste discussão que veio à tona naquela noite. Triste porque todos meteram os pés pelas mãos e achando-me a única voz sóbria, me vi também cheio de soberba e por isso ao final daquele diálogo eu só pensei, confesso que não falei....mas só pensei: AINDA BEM QUE VOCÊ SE CONVERTEU, FARISEU. (risos)
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