quarta-feira, 2 de novembro de 2011

PÁGINAS DE UM DIÁRIO...


28 de abril de 2000;
               
                O que mais me encanta no estar só é que tudo se torna passivo, e a dinâmica da vida envolve ativamente a essência de meu ser. Tudo se faz único, original! Vem à tona os instintos, os sentimentos, as vontades. Aquela velha amiga: a ousadia, que tantas vezes repudiamos no dia-a-dia, parece mais próxima. O próprio tempo parece nos dar mais tempo. A sensação que a solidão traz é de que todo o universo se inclina até nós. E assim o gozo de Deus é tão lúcido que até corremos o risco de lançar um sorriso ao horizonte, ou mesmo lágrimas aos homens que não estão. Nunca estaremos tão bem acompanhados como que pela solidão. Ela coloca todos em nossa presença, mesmo os que nunca estiveram. E assim nossa existência não fica comprometida como em tantas ocasiões nas quais somos esmagados pelo outro simplesmente por não sermos quem eles queriam que fossemos.
                No estar só tudo tem um novo sentido distante do convencional. O café, a caneta, nós mesmos, talvez até Deus. O café pode-se entender, a caneta também: objetos...utilitários. Nós podemos ser compreendidos com um determinado esforço, é claro. Mas Deus? Inclusive me pergunto: Deus tem um novo sentido? Percebo que na solidão o senhor Deus se torna um tagarela. Um tagarela inconveniente que inúmeras vezes nos impele a escutar a brisa, o fogo, a chuva, os pássaros e acaba por nos recordar que o estar só é sempre relativo porque a Sua presença é absoluta em tudo!
                                                                       RJ

p.s. Devaneios de meus dezenove anos. Onze anos atrás!!!

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