quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Feliz ano velho, feliz ano novo.


            Alguém me escreveu outro dia fazendo referência à inteligência do homem que começou a contar o tempo. Sempre pensei nisso, mas nunca com a intenção de maximizar o mérito de quem quer que seja que iniciou a contagem do nosso tempo. Sequer sei quem é. Na verdade eu sempre pensei na importância de termos referências para que pudéssemos viver o que realmente importa, e não para termos um relógio nos dizendo o tempo todo que estamos atrasados. A referência para mim serve como termômetro de vida em profundidade. Recuso-me a permitir que o relógio diga-me quanto tempo estou perdendo com minhas sonecas. Recuso-me a permitir que o relógio diga-me quanto tempo estou desperdiçando com poesia. Recuso-me a permitir que o relógio diga-me quanto tempo estou deixando passar com internet e telefone, desde que estes me unam às pessoas que amo. Não permito que os ponteiros sejam deificados e conduzam minha vida através da mínima: Tempo é dinheiro. A referência à qual faço menção é a mesma feita por Rubem Alves: Tempus Fugit! O tempo está passando, fugindo de nós. E o que temos sentido? A pergunta é essa: o que temos sentido. Não ouso perguntar sobre o que tenho feito, porque é cair de um precipício. Fazer, ter, comprar, possuir.... são verbos que não entram em minhas prioridades quando penso em referência de tempo.
            Chegando ao final de mais trezentos e sessenta e cinco dias (que poderiam ser duzentos, ou cento e vinte – afinal é só referência) reporto-me às minhas sensações. Às minhas emoções. Àquilo que pude proporcionar e ao que me proporcionaram.
            Ao findar desse dois mil e onze posso afirmar que sou mais feliz.
            Sou mais feliz porque comprei menos e doei mais.
            Porque liguei mais para meus amigos.
            Amei mais minha família.
            Sou mais feliz porque procurei ser mais generoso com o outro e mais exigente comigo mesmo.
            Sou mais feliz porque viajei mais para encontrar-me com pessoas que amo.
            Porque aprendi a diferença entre exercitar a solidão que amadurece e ser sozinho.
            Sou mais feliz porque investi em pequenos momentos: correr, pedalar, caminhar, olhar o céu.
            Porque só li aquilo que eu quis. Porque não li nada técnico.
            Quando olho para o ano que está morrendo percebo que consegui recuperar velhas amizades, quase esquecidas pela idolatria aos deuses tempo e distância, mas revivificadas pelo poder do olhar e das palavras ditas com afeto.
            É bom descobrir que as calamidades do universo não me destruíram, apesar de terem me abalado.
            Sou mais feliz porque conheci pessoas novas, tão boas quanto as velhas, e porque com ambas continuo descobrindo a beleza de ser humano.
            Hoje quando percebo o ano se esvaindo pelas minhas mãos sou grato a ele, por ter me oportunizado, em seu referencial de tempo, encontrar, desencontrar, reencontrar e encontrar de novo, e continuar encontrando motivos para viver bem o tempo que se vai.
            Que em dois mil e doze, como diria um amigo, sejamos menos lâmpada e mais luz. Que sejamos mais humanos com o tempo que temos pela frente. Que deixemos as velhas brigas em prol de novos ideais. Que abracemos mais. Que aprendamos a andar de bicicleta de novo. Que possamos ir à missa, ou ao culto, ou à reunião de Evangelho nos lares com liberdade. Que exercitemos a caridade com o que está ao nosso lado e com o que está em outro continente. Que em dois mil e doze possamos dizer ao dinheiro “quem é mesmo o dono de quem”.
            Que no próximo referencial de tempo você e eu possamos ser felizes na simplicidade das coisas simples, e que se vierem as complexas, que sejamos felizes com elas também, porque o que importa é ter consciência de que a felicidade é um caminho que escolho sendo senhor do meu tempo. Porque Tempus Fugit!
            Feliz ano velho, feliz ano novo.
              
            Raphael Juliano

           
           

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

DIÁRIO DE UM TIO 2

28 de dezembro de 2011;

Logo que minha irmã ficou grávida tirei uma folga e viajei para Montes Claros para abraçá-la e abraçar a pequena vida que se fazia em seu ventre. Quis dar um presente que o bebê pudesse usar para a vida toda. Foi aí que lembrei-me do ano de 2000, quando era frade carmelita. Conheci Exupéry, um escritor formidável. Decidi presentear meu sobrinho com um livro mesmo ele ainda estando em sua toca. Seria o primeiro livro de Enzo. A dedicatória diz assim:
"Querido bebê,
toda vida influencia outras vidas; 
Desde já você tem influenciado a existência deste velho aprendiz.
Saia logo dessa toca para aprendermos muitas coisas juntos.

Seu tio, que já te ama...

Raphael Juliano 06/05/11"


Quando Enzo nasceu decidi ler-lhe o livro. Comecei a bela narrativa de " O pequeno príncipe" com ele em meu colo. O olhar do garoto era de uma atenção degustativa. A impressão que tive foi que ele gostou da sonoridade contínua de uma h-estória de amor e carinho. Talvez os céticos relacionais creiam (ou descreiam - sei lá) que um bebê de dias de vida fora do útero não compreenda de narrativas. Pode ser. Mas eu creio na força das palavras. Na força da poesia. Creio que as letras ditas com amor podem gerar paz e perspectiva de eternidade nas pessoas. Não falo de uma eternidade geográfica, falo da eternidade do ecoar daquilo que é verbalizado com afeição e que se materializa no espírito.
O olhar de Enzo, quando leio para ele, é um olhar de compreensão total. Ele compreende que é amado. Ele compreende que está seguro. Ele compreende que está quente e alimentado. É essa eternidade que a leitura gera no coração do pequenino: a eternidade que começa aqui, com o amor de um tio coruja.

RJ

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

DIÁRIO DE UM TIO 1



26 de dezembro de 2011;

No dia vinte e um  de dezembro de 2011, às 22h02min nasceu o pequeno Enzo, meu sobrinho amado.
Imediatamente no dia vinte e quatro embarquei para Montes Claros, deixando meu sobrado na Capital sob os cuidados do meu comparsa Fernando.
Grande surpresa para todos! Como foi bom sentir a fragilidade da vidinha de meu sobrinho em minhas mãos. As pessoas grandes gostam de caracterizar tudo com números. Não quero pensar em números. Quantos kilos, centímetros.... Enzo é lindo. Olhar sereno, cabelos sedosos revoltos. Os lábios são da família Juliano, formando um beicinho simpático. A pele é tão sensível! Peludo como o titio, até as orelhinas têm pêlos. O berro atesta que é um menino de pulmões saudáveis.
Fico em vígilia ao lado do berço, velando o sono do pequenino. Afago sua cabecinha quando ele faz caretas de sono ruim e fotografo quando ele sorri aos embalos de um sonho bom.
É uma vida nova. Ser tio é trazer à existência uma paternidade espiritual-afetiva que nos faz entender a dimensão do amor ágape. Do amor que vai além do eu!
Como já havia dito antes: é vida renovando vida. A árvore da vida..... gerando amor novo. Gerando perspectiva de eternidade aqui e agora, no nosso mundinho cheio de finitudes.
Quero ensiná-lo as coisas boas que aprendi em meus poucos anos de vida. Quero partilhar com ele o olhar de quem vê o mundo com poesia.
Quando temos um bebê ao colo percebemos como a adultice é chata e cansativa. Quero ensinar ao Enzo a ter paciência com as pessoas grandes.

Espero que vocês tenham paciência com esse novo diário. E se for difícil, leiam "O pequeno príncipe" e ao verem os desenhos aprendam a ver jiboias que engolem elefantes e não chapéus. Eis o mistério da infância: o olhar.

RJ

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A procura da batida perfeita: voluntariado.

1. Todos podem ser voluntários

Trabalho voluntário é uma experiência aberta a todos. Não é só quem é "especialista" em alguma coisa que pode ser voluntário. Muito pelo contrário: todos podem contribuir, a partir da idéia de que o que cada um faz bem, pode fazer bem a alguém. O que conta é a motivação solidária, o desejo de ajudar, o prazer de se sentir útil. Muitos profissionais preferem colaborar em áreas fora de sua competência específica, exatamente para se abrir a novas experiências e vivências.

2. Trabalho voluntário é uma via de mão dupla: o voluntário doa e recebe

Voluntariado não tem nada a ver com obrigação, com coisa chata, triste, motivada por sentimento de culpa. Voluntariado é uma experiência espontânea, alegre, prazerosa, gratificante. O voluntário doa sua energia, tempo e talento mas ganha muitas coisas em troca: contato humano, convivência com pessoas diferentes, oportunidade de viver outras situações, aprender coisas novas, satisfação de se sentir útil.

3. Voluntariado é uma relação humana, rica e solidária

Trabalho voluntário não é uma atividade fria, racional e impessoal. ? contato humano, oportunidade para se fazer novos amigos, intercâmbio e aprendizado. Este sentimento de estar sendo útil a alguém é uma motivação fortíssima para o envolvimento de pessoas como os idosos, aposentados e portadores de deficiências, que a sociedade tende a desvalorizar e considerar inúteis

4. No voluntariado, todos ganham: o voluntário, aquele com quem o voluntário trabalha, a comunidade

A ação voluntária visa a ajudar pessoas em dificuldade, resolver problemas sociais, melhorar a qualidade de vida da comunidade. Seu sentido é eminentemente positivo: ao mobilizar energias, recursos e competências em prol de ações de interesse coletivo, o voluntariado reforça a solidariedade social e contribui para a construção de uma sociedade mais justa e humana.

5. Voluntariado é uma ação duradoura e com qualidade

O voluntariado não compete com o trabalho remunerado nem com a ação do Estado. Sua função não é tapar buracos nem apenas compensar carências.
Uma sociedade participante e responsável, capaz de agir por si mesma, não espera tudo do Estado, mas tampouco abre mão de cobrar do governo aquilo que só ele pode fazer.

6. As formas de ação voluntária são tão variadas quanto as necessidades da comunidade e a criatividade do voluntário

Tradicionalmente, no Brasil, o voluntariado se concentrou na área de saúde e no atendimento a pessoas carentes. O reconhecimento da urgência de ações nessas áreas não é contraditório com a valorização de novas possibilidades de voluntariado nas áreas de educação, atividades esportivas e culturais, proteção do meio ambiente, etc. Cada necessidade social é uma oportunidade de ação voluntária. Basta olhar em volta e dar o primeiro passo.

7. Voluntariado é ação

O voluntário é um pessoa criativa, decidida, solidária. No trabalho voluntário, não há cartórios nem monopólios. Não há hierarquia de prioridades. Não é preciso pedir licença a alguém, antes de começar a agir. Quem quer, vai e faz.

8. Cada um é voluntário a seu modo

Alguns são capazes individualmente de identificar um problema, arregaçar as mangas e agir. Outros preferem atuar em grupo. Grupos de vizinhos, de amigos, de estudantes ou aposentados, de colegas de trabalho que se mobilizam para ajudar pessoas e comunidades. Por vezes, é uma instituição inteira que se mobiliza, seja ela um clube, uma igreja, uma entidade beneficente ou uma empresa. No voluntariado é assim: não há fórmulas nem receitas a serem seguidas.

9. Voluntariado é escolha

Cada um contribui, na medida de suas possibilidades, com aquilo que sabe e quer fazer. Uns têm mais tempo livre, outros só dispõem de algumas poucas horas por semana. Alguns sabem exatamente onde ou com quem querem trabalhar. Outros estão prontos a ajudar no que for preciso, onde a necessidade é mais urgente. Cada compromisso assumido, no entanto, é para ser cumprido.

10. Voluntariado é um fenômeno mundial

A escolha do ano de 2001, pelas Nações Unidas como Ano Internacional do Voluntariado, representa o reconhecimento internacional do voluntariado como fenômeno contemporâneo e global. Esta celebração é uma oportunidade a ser aproveitada para consolidar o voluntariado no Brasil como componente essencial de uma sociedade cada vez mais democrática e participativa.
Artigo publicado no "Guia do Voluntariado", da Associação Tertio Millennio, de autoria de Miguel Darcy de Oliveira, Membro do Comitê Executivo do Conselho da Comunidade Solidária e Coordenador do Programa Voluntários do Conselho da Comunidade Solidária

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Breve comentário sobre o filme "Magnólia".


Ontem decidi ver pela segunda vez o filme “Magnólia”, de Paul Thomas Anderson. Confesso que quando assisti a esta película pela primeira vez não tive os mesmos orgasmos intelectuais que me vieram ontem.
O filme mostra a h-estória de várias pessoas que moram na rua magnólia. Isso me passou despercebido na primeira exibição, mas ontem percebi que em um dado momento quase todas as personagens se cruzam pela mesma via.
O emaranhado do diretor Thomas Anderson retrata diversos níveis de relação, mas algo que salta da tela a todo instante é a relação entre pais e filhos.
Longe de meu interesse querer ser um crítico de cinema, e por isso mesmo não vou aprofundar-me na obra, mas tão somente naquilo que o filme traz de mais revelador. O elenco está cheio de ótimos atores, desde carinhas bonitinhas (Tom Cruise) à caronas não tão bonitinhas, mas de muito talento, inclusive um que eu amo: Philip Seymor Hoffman.
O ponto comum das personagens-revelação é a filiação. Frank foi abandonado pelo pai a cuidar da mãe enferma. Cláudia foi molestada pelo pai. Donnie foi roubado pelos pais e Stanley, um garotinho-gênio, é manipulado pelo genitor.
A relação entre filhos e pais dos três primeiros se deu no passado, e o passado acabou batendo às portas dos mesmos. Frank se tornou um guru do sexo, ridicularizando toda e qualquer relação conjugal ensinando como os homens deveriam tornar as “vaginas depósitos de esperma”. Cláudia, molestada, torna-se uma cocainômana frustrada que não tem prazer nas relações com os homens. E Donnie, vencedor de um grande prêmio em um programa de perguntas e respostas, tem o mesmo prêmio roubado pelos malfeitores paternos e torna-se um ex-gênio frustrado e sexualmente mal resolvido. Até aqui todos marcados pelas mãos paternas. O grande lance do roteiro é Stanley, que vive o presente com o pai pressionando-o para que ele ganhe dinheiro através de sua larga inteligência, no mesmo programa que Donnie um dia se tornara o garoto sensação.  
A cena reveladora para mim foi a chuva de rãs (Prestem atenção que aparece a todo momento no filme a imagem “8:2”). Em um dado momento do filme, quando os destinos estão selados, rãs começam a cair do céu. Imediatamente fui remetido ao primeiro testamento da bíblia, ao livro de Êxodo (a imagem “8:2” se refere ao capítulo oitavo, versículo segundo de Êxodo), quando Deus manda rãs como castigo ao povo egípcio.
Importante mencionar também que o livro de Êxodo traz uma definição que os evangélicos costumam chamar de “maldição hereditária”. Isso porque Deus afirma, em dado momento de sua estória legal com a humanidade, que cobraria os pecados dos pais nos filhos.
            As rãs no velho testamento estavam associadas com a deusa Heqt, que ajudava as mulheres no parto. É uma praga cômica, pois a deusa Heqt, dos egípcios, estava vinculada à fertilidade, ao parto, ou seja, indiretamente, ao termo “filiação”. Não quero teologizar, mas apenas partilhar aquilo que me fez rir muito. O filme foi mais epifânico para mim que o próprio antigo testamento. Thomas Anderson, a meu ver, quis mostrar a cara engraçada de Deus, demonstrando sua soberania brincando com a deidade dos povos do Egito – escrevo isso com todo respeito aos seguidores de Heqt, afinal são apenas palavras de um apreciador de cinema e não de um teólogo, como já disse.
Magnólia não é um filme religioso. Mas para a compreensão da película é necessário ter lido algo do velho e do novo testamento.
Fica claro, então, que os roubos, abusos, negligencias dos pais são refletidos nos filhos, mas não da maneira como os evangélicos colocam: “maldição hereditária”. E sim em uma relação simples de causa e efeito onde muitas pessoas não conseguem lidar com situações limites e são “castigadas” pelas suas próprias emoções e descontroles. A perda do equilíbrio é o pior castigo que podemos permitir que nos aconteça. A chuva de rãs é apenas a descrição artística desse enredo conflitivo.
O melhor no filme depois da chuva de sapos é a dimensão redentora de Stanley. O único personagem que ainda vive a relação de vítima oprimida pelo pai. Depois de desistir de vencer o programa de gênios e faturar o dinheiro, Stanley foge do pai e vai à escola. Depois da queda glamorosa dos sapinhos, ele retorna para casa e acorda o papai sacana com a frase: “Pai você precisa me dar mais carinho.” Percebo um tipo humano redentor em Stanley – tipo para nós sociólogos é a representação ideal que pode ajudar na compreensão de um sistema. Se percorrermos o novo testamento esse tipo ao qual me refiro é reportado a Jesus. O grande judeu em suas biografias mostra a todo tempo que não existe “maldição” onde a graça preenche. Ele mostra que o amor é capaz de nos reorientar aos nossos eixos, ao equilíbrio. Stanley personaliza o trecho “Cristo levou sobre si nossas maldições”.
Imediatamente todos os outros personagens se reorientam. Cláudia encontra o policial bom e os dois se apaixonam. Frank perdoa seu pai no leito de morte do antigo genitor-carrasco. Donnie se reconhece como pessoa com autodeterminação em todas as dimensões de sua vida. E o pequenino Stanley vislumbra tomar posse do amor que reivindicou do pai.
Magnificamente o filme me remeteu ao poder do amor. Ao poder de libertação e redenção que as relações podem ter. Elas podem sim, aprisionar e oprimir, mas quando se tem a revelação da gratuidade genuína das relações em profundidade, ninguém fica preso.
A gratuidade dessas relações de profundidade são demonstradas pelos anjos-humanos que são condutores do amor que flui de Stanley. O policial ingênuo. O enfermeiro bondoso (meu favorito Philip Seymor Hoffman) a esposa (arrependida) do pai de Frank, a repórter instigadora de verdades. Todos co-participes na redenção dos personagens amaldiçoados.
Lembrei-me muito do saudoso Renato Russo:
“Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser,
Quando você crescer?”
Fica a reflexão: quem nós estamos culpando? Quem seremos hoje? “Porque se você parar prá pensar” não existe amanhã. Temos que amar hoje porque o amor lança fora toda maldição.
RJ


sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

PÁGINAS DE UM DIÁRIO...


10 de novembro de 2008;

            Na semana passada estive em um seminário sobre o GEPAR (Grupo Especializado em Patrulhamento em Áreas de Risco) e o ”Programa Fica Vivo!”. Foi produtivo. (...)
            No sábado fui prá casa do Chico descansar e só voltei na segunda de madrugada. Confesso que namorei bastante no fim-de-semana. Duas pessoas bem interessantes!
            Assistimos alguns filmes e dormimos. Meu pobre amigo anda muito cansado. Ele trabalha todos os dias das 17 horas até o fechamento do restaurante. Ele é o caixa. Normalmente sai às 02 horas, mas há dias em que sai às 04 horas.
            Ando pensando na minha vida. Acho que faço isso até demais. Seria mais fácil se eu não pensasse... seria um sacramento de salvação: a ignorância. Mas enfim: eu penso! Estou ficando velho. Minhas boas e confiáveis amizades só diminuem. O corpo já sente o peso da inércia. Minha mente já consegue me enganar. Bem que esquecido eu sempre fui. Sabe, sinto a juventude exalando todos os dias como se a vida e o vigor se perdessem ao vento. E o que fica? Às vezes desespero. Às vezes serenidade, e até consolo. Um auto-consolo que diz: “Sou jovem, nem fiz trinta”. Mas o fato é que a juventude está indo, (...)! Tenho que me aventurar mais. Como antes!
            As minhas prioridades não são as mesmas das outras pessoas que têm a minha idade. Isso dificulta minhas relações. As músicas, os filmes, (...).
            Talvez eu é quem deva procurar outros ciclos. Tudo é tão difícil! Mais uma vez eu digo: Não sou eu quem escolhe, são as escolhas que me escolhem!
RJ

domingo, 4 de dezembro de 2011

PÁGINAS DE UM DIÁRIO...


16 de maio de 2001;

                É um vazio muito grande o que sinto agora. Tudo parece conspirar a favor do vão eu se forma em mim. Saio, corro, olho para os lados, me ocupo. Nada: é o que acontece. A tristeza é uma inquilina de tempos antigos que agora incomoda mais do que nunca.
                Batem à minha porta. Não me animo a atender. Vejo apenas pessoas vagando pelas ruas. Tantos encontros e eu fazendo parte dos desencontros. Quantos inquilinos indesejados!
                O equilíbrio não é mais aquele de antes. A firmeza já vai morrendo. A angústia é quem vai tomando conta da casa.
                "..."
                Continuo a olhar os que ficaram, os que deixei, os que me deixaram. Foram-se tão rápido. Todos os dias os encontro. Eles estão comigo e eu estou com eles. Agora tenho que me encontrar. Tenho que estar comigo mesmo. Tenho que me cuidar.
                Quero escrever, quero estudar, quero ser... Eu quero! Mas antes é tempo de reencontrar o encanto. É tempo de reencontro. Adiante... Não posso parar.
RJ

domingo, 27 de novembro de 2011

PÁGINAS DE UM DIÁRIO...

30 de novembro de 2008;

            As minhas inquietações acerca de todas as coisas persistem. A questão é que agora não tenho com quem partilhá-las. A vida é engraçada, não? Todas as pessoas que amo estão longe.
            Falando em pessoas, algo me ocorreu ontem: Hoje, pensava ontem, sou uma pessoa mais cética, não que seja um descrente. Mas o fato é que toda minha relação com a igreja católica acabou. E foi uma relação longa.... sete anos! Porém, as pessoas mais próximas, as pessoas que mais amo, as pessoas que me olham nos olhos e me conhecem bem, todas elas eu conheci no seio do catolicismo. Nisso sou grato a religião, só nisso.
            Estou em processo de mudança. Em todos os sentidos. Quero mudar de casa e ir morar em um lugar melhor. Quero mudar minha rotina de atividades. Quero voltar a fazer algumas coisas. Quero gastar menos dinheiro. Talvez até namorar.
            Hoje amanheceu um dia de céu solene. É um bom dia para batizados. Um bom domingo! Espero.
                                                                                                                                                        RJ

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Nigéria: a dor não vai ficar lá fora

Nigéria: a dor não vai ficar lá fora

                Há algum tempo não me comovia com violência. Não se tratava de insensibilidade, mas o fato é que não presenciava nenhum atentado gratuito contra a vida humana há mais de um ano, desde que deixei a atividade operacional de policiar as ruas e passei a trabalhar em uma repartição administrativa da PM em Minas. Quando estava nas ruas estive com muitas vítimas: vítimas de estupros, vítimas de pais violentos, vítimas de armas de fogo e de objetos perfuro-cortantes. Nunca maximizei o sofrimento de ninguém, mas ajudava sem internalizar em profundidade a dor do outro. E para isso eu precisava de algum anestésico: música, alguma cerveja, literatura. Tudo para garantir que a dor daquelas vítimas não entrasse em minha alma e se instalasse lá dentro. Tudo para garantir que a dor ficasse do lado de fora.
                Quando me sentei à mesa e passei a despachar uma infinidade de documentos, não percebi mais o mundo a minha volta. Deixei de me envolver com a dor do mundo e acabei assimilando que não existe dor lá fora. Isso até ontem.
                Durante um encontro com amigos queridos em torno do Evangelho, discutimos a situação das crianças bruxificadas na Nigéria. Apesar da discussão, não havia dor entrando em mim porque não havia toque relacional. Apesar dos relatos dos meus amigos, eu só imaginava a dor dos pequenos. Certo é que saímos dali dispostos a ajudar. Mesmo sem ter a dor em meu peito, eu queria ajudar.
                Quando cheguei em casa acessei meu e-mail e nele havia um link do Caminho da Graça que me conduziu a imagens que me proporcionariam o toque no caos. Vi pastores neo pentecostais da teologia da prosperidade roubarem famílias com a promessa de que exorcizariam os espíritos maus que assombravam sua casas. E onde estariam esses espíritos? Pasmem: nas crianças!
                Sim aqueles falsos pastores cobram a metade da renda média anual de uma família nigeriana para expulsarem espíritos de crianças que eles dizem serem crianças bruxas. Acontece assim: Digamos que o pai de família está com problemas de emprego, a mãe está doente, porém eles freqüentam alguma denominação religiosa (não ouso aqui dizer Igreja, pois o sentido desta para mim é outro) e ali pagam seus tributos-dízimo, eles pensam que não podem sofrer as calamidades da vida tais como morte, enfermidade, problemas financeiros e outros. Neste momento, então, tem que culpar alguém. Sobra para a criança ou para as crianças, que são apontadas como bruxas. Elas são levadas ao charlatão-pastor e submetidas a todo tipo de barbaridade em uma mistura de rituais de um pseudo-evangelho e misticismo pagão que visa exorcizá-las para tentar recuperar a prosperidade da família.
                Os pequenos são queimados, tem suas cabecinhas perfuradas por pregos, apanham e em alguns casos são até decapitados.
                A este contexto de terror soma-se a omissão da comunidade evangélica internacional, dos órgãos internacionais que lutam pelos direitos humanos e da maioria das ONGs. Estas últimas inclusive, em alguns casos, aliando-se aos falsos-sacerdotes, desviando recursos destinados aos orfanatos que acolhem as crianças bruxificadas e deixando de prestar ajuda humanitária aos pequeninos, pois quanto mais crianças bruxas mais dízimos, mais dinheiro que será dividido entre os pastores neo pentecostais e essas mesmas organizações que deveriam proteger os direitos dos pequeninos. Ou seja: Se essas ONGs do diabo interferirem e protegerem as crianças, serão menos famílias a serem roubadas pelos cultos da prosperidade, sendo assim os macumbeiros subornam as entidades para que elas não desempenhem seu papel em prol de uma boa grana. Nas palavras de um amigo: “o bem e o mal se juntam”.
                Tomei consciência de tudo isso pelos relatos de viagem do Léo Santos, nosso irmão-amigo que está lá pelo Caminho Nações, tentando minimizar o drama daqueles inocentes. As imagens que vi foram fortes. Vi mais uma vez a morte sendo propaganda em nome da religião e do dinheiro. Vi a morte sendo propagada em nome Daquele que para mim só se move em vida e esperança. Vi homens inverterem a ordem da Graça de Deus. Ao invés de subverterem a ordem e implantarem graça de baixo prá cima – “fracos confundindo fortes” – nesse mundo, como supostos discípulos Dele, inverteram a dinâmica e implantam a desgraça na terra.
 Senti a dor daqueles pequeninos. Senti dor novamente! Pelo toque relacional do olhar, do ver, senti a dor irradiar em meus membros e pulsar em minhas veias. Ela faz parte de mim agora. Não está mais lá fora. Estou nessa causa. Talvez nunca vá ao campo, mas daqui onde estou sei que muito posso fazer. E é isso que estamos tentando fazer no Caminho Nações/Caminho da Graça, não sofrermos nenhum surto missionário, mas estarmos cientes de que em nossas realidades, através de nossos grupos de amigos, através das redes-sociais podemos juntar esforços e ajudar aqueles meninos e meninas a sentirem menos dor, a não sentirem mais medo de Deus, e, sobretudo a não sentirem mais medo de adultos. Podemos ajudar as crianças bruxificadas da Nigéria a apenas serem crianças de novo.
Você pode pensar: "mas existem tantas crianças aqui". Mas não existe ninguém que faça nada pelas crianças da Nigéria, e se ninguém faz  por elas, seremos nós que o faremos.
A dor não vai ficar lá fora!

Belo Horizonte, 21 de novembro de 2011.

Raphael Juliano
p.s. Vocês que me conhecem sabem que eu nunca pediria ajuda se não fosse realmente necessário. Se você puder ajude-nos a ajudar: Vejam o link acima.

Banco Itaú
        Agência: 2974 | Conta Corrente: 27523 - 8
        CNPJ: 13.099.198/0001-54
       Associação Humanitária Caminho Nações - Way to the Nations
               

               

domingo, 20 de novembro de 2011

Para que todos saibam sobre o caos no qual vivem as crianças na Nigéria!!


Amigos, boa noite.
Meu nome é Raphael Juliano, e como sabem sou policial militar e professor de sociologia. Faço parte de um movimento chamado "Caminho Nações - Way to the Nations" (http://www.caminhonacoes.com/) (VIDE LINK)
Na Nigéria cuidamos de dezenas de crianças que em nome de Deus são estigmatizadas como bruxas, tendo assim seus corpinhos furados, queimados... Na espera de que fiquem livre "da maldição" que está sobre ela,
claro, depois de seus pais deporem suas reservas de dinheiro diante do "sacerdote" mal intencionado, veja esse vídeo produzido pela BBC -> http://www.caminhonacoes.com/detalheconteudo.asp?idconteudo=271. (VIDE LINK)

Aqui no Brasil, eu faço parte de um movimento chamado "Caminho da Graça", onde gostamos, aprendemos e vivemos o Evangelho, Palavra de Deus, 'mentorados' por este homem, Caio Fábio (http://www.caiofabio.net/) e temos várias 'Estações' espalhadas pelo Brasil e Mundo de pessoas que acreditam no Evangelho puro e simples.

Em janeiro de 2010 fizemos nossa primeira viagem à Nigéria no intuido de combater essa praga/prática tão disseminada por lá... aqui está todo o relato de pesquisa pré-viagem e um "diário de viagem" -> http://www.caiofabio.net/canal.asp?canal=00028 (ACOMPANHE OS RELATOS DAS VIAGENS)

Desta primeira viagem foi montado um livro chamado "Missão: Salvar Crianças-Bruxas" (capa em anexo).
O homem que está na capa é o Leo, que ainda segue viajando para a Nigéria a cada 15 dias para organizar e administrar os orfanatos e outros projetos do Caminho por lá. Ele faz essa rotina a cada 15 dias pois deixou mulher e filhinho recém-nascido em Londres. Em breve eu espero que este livro esteja em várias livrarias.
Essa introdução serve para que você tenha um embasamento do texto que seguirá abaixo, razão única desse ato-email. O texto foi escrito pelo Léo (homem da capa do livro)
que está na Nigéria nesse momento e que agora nos repassa essas informações alarmantes do que está acontecendo lá. O MUNDO PRECISA SABER. NOS AJUDE A ESPALHAR!


CAOS NO NIGER DELTA
Apesar de escrever relatórios quase diários do que vem acontecendo aqui na Nigéria sempre tenho em mim um verdadeiro receio de dar muitos detalhes e mesmo assim não conseguir expressar a realidade e complexidade do problema.
Mas, hoje, requer um pouco mais de detalhes para que vocês sintam ou pelo menos percebam o que está acontecendo por aqui.
O desemprego na região é algo alarmante. Não se ouve estatística, mas em toda direção que vou vejo pessoas desesperadas por um trocado que seja para que possam comprar pelo menos um pão;
Policiais fortemente armados pelas estradas dobram o tempo de qualquer percurso com tantas paradas e tantas complicações que arranjam para pedir uma propina e pasmem eu vi uma propina de 200 Nairas (equivalente a R$2,00) deixar dois policiais extremamente satisfeitos. E não pensem que isso aqui vale muito, um cacho de bananas custa 250 Nairas.
Na última terça-feira, a caminho do orfanato James 1:27, vi um homem morto abandonado na beira da rua com seu corpo inteiramente queimado. O odor de carne queimada na rua me causava enjôo. Mais tarde vi quatro rapazes, talvez seus algozes,  que riam enquanto o enterravam a dois metros adentro daquele terreno baldio.
Cheguei ao orfanato James 1:27 para rever as crianças e ver como vai a obra dos dois quartos que pagamos recentemente para serem acabados. É neste orfanato que mantemos a Esther que resgatamos na minha última vinda. Encontrei a maioria das 50 crianças subnutridas vivendo de uma pequena porção diária de farelo de mandioca com água ou às vezes um bocado de feijão. A pequenina Vitória de aproximadamente 4 anos nos implorou por um pedaço de pão. Todas as crianças lá estão sofrendo com uma espécie de sarna na pele e eles não acham a causa do problema.
Suspeita-se dos colchões e/ou pequenos cobertores que não podem ser trocados por falta de condições. A situação é muito triste e carece muito de nosso cuidado. Fiz promessa no nome do Caminho de os ajudarmos mais.
Dois meses atrás a Esther, talvez pela falta de condições no orfanato fugiu de lá e tentou voltar para sua vila.
Nosso time foi tentar encontrá-la e seu padrasto disse que ela havia aparecido por lá mas que lá não estava mais. A Diana entendeu que ela havia sido abandonada novamente e foi procurá-la pelas ruas, a reencontrou aos trapos e a trouxe de volta ao orfanato.  Segundo o pastor do orfanato quando ela chegou e foram dar banho nela viram que ela tinha sido seriamente abusada e sua genitália estava toda desfigurada.
Depois fui rever  as 12 crianças (10 meninos e 2 meninas) que se refugiaram nos cômodos abandonados do antigo orfanato CRARN das quais temos cuidado com alimentos, roupas e ajuda escolar desde junho deste ano através de uma família local que se dispôs a cuidar deles.
Ali também no antigo orfanato encontrei também e pra minha surpresa o escritório reativado com duas ONGs trabalhando em parceria e dizendo que desde setembro tem também cuidado das mesmas crianças dando lhes duas refeições por dia.
Minutos mais tardes as crianças vieram me dizer que elas quase nada recebem daquelas ONGs além de esporadicamente uma porção de farelo de mandioca e percebi que ali não passavam de um grupo de 5 ou 6 funcionários do antigo orfanato desempregados a muito tempo, usando o lugar de fachada para levantar alguns fundos para si próprios. Todas as crianças me pediram que continuasse ajudando elas através da família do Godwin e no fim os meninos literalmente me imploraram por mais uma bola de futebol pois a deles já havia furado a vários dias. No dia seguinte quando retornei com uma bola novinha que havia trazido da Inglaterra a alegria deles foi tão grande que parecia que eu havia lhes realizado um grande sonho.
Depois fui até o orfanato da Salvation Army  (Exército da Salvação) onde mantemos o pequeno Samuel um menininho muito especial que também resgatamos das ruas e pagamos pelo seu cuidado.
Embora eles tenham uma construção invejável com quartos, casas, templo e muita área ao redor hoje só cuidam de 15 crianças e só contam com 4 funcionários por falta de fundos também.
De lá fui procurar a família da dona Mabel que já a mais de uma semana entrou em contato conosco pedindo ajuda. Pediram que fossemos buscar duas crianças que nos espaço de cinco dias foram encontradas  na estrada e que eles não tinham nenhuma condição financeira de cuidar delas.
Chegando lá os conheci. O primeiro que eles haviam encontrado sentado no mato à beira da estrada era o Bassey, um menino de 9 anos bem tímido que não sabe nem exatamente o nome de onde ele morava além do nome da região.
Segundo ele o pai o trouxe e o abandonou na rua. Quando o encontrei ele estava vestindo uma camisa do senhor que o resgatou e estava sem shorts, sem cueca, sem nada. Segundo dona Mabel quando ele foi encontrado estava usando uma roupa literalmente podre, estava extremamente faminto e não fazia idéia de para onde deveria caminhar e por isso sentou ali na estrada e ali ficou.
A segunda criança foi a Favour, aproximadamente 5 aninhos, uma gracinha de menina que não faz idéia do nome do lugar onde ela morava.
Foi também encontrada na beira da estrada com o corpo todo ferido. As marcas estavam espalhadas nas costas e cabeça e se assemelhavam a chicotadas mas ela tentando explicar a causa dizia que foi uma máquina grande e o pessoal acha que ela foi atropelada por algum caminhão e se machucou no asfalto. Por causa da situação em que ela foi encontrada a dona Mabel e seu marido chamaram a polícia que a levou e pelo dialeto dela tentou localizar sua vila, mas não conseguiram e simplesmente a trouxeram de volta. No caso do Bassey na próxima terça-feira a Uduak que trabalha conosco vai passar o dia com ele rodando as vilas de Oron tentando localizar sua vila e família para tentarmos um processo de reconciliação. Mas no caso da pequena Favour não cremos que vamos achar sua família e preciso ainda este fim de semana arranjar um orfanato onde possamos colocá-la e cuidar dela.
Visitei também o que eles chamam de “grande construção da Stepping Stones” e tudo o que vi foi um alicerce realmente bom mas já com muito mato crescendo mostrando a falta de trabalho por ali. Segundo os próprios membros da SSN eles estão com escassez de fundos e isso me disapontou, pois desde o começo do ano os vi deixando as “criancinhas bruxas” meio de lado devido a tanto conflito político com que se envolveram e começaram a desenvolver outros projetos em outros estados e em Gana.
Nas últimas três semanas nosso time resgatou e cuidou do caso de quatro meninos, Samuel (8 anos), Michael (8 anos), David (8 anos) e Israel (6 anos). Samuel está na Salvation Army aos nossos cuidados como já mencionei;  David foi encaminhado ao Ministério do Bem estar da Mulher e Criança; Michael e Israel tiveram suas famílias localizadas e foram ambos reconciliados.
Mas hoje, três horas atrás recebi daqui de Eket más notícias lá de Oron. Michael apareceu quase desmaiando na casa do Chief Medekong com a roupa toda suja de sangue. Quando olharam para ele viram que ele tinha um corte enorme na cabeça.
Rapidamente levaram ele para receber algum socorro, chamaram a polícia e os conduziram até a casa de Michael. Chegando lá abordaram seu pai o qual alegou que seu irmão, tio de Michael, bateu na cabeça dele com uma barra. A polícia encontrou seu tio e ele foi detido aproximadamente uma hora atrás.
Ainda a caminho da base nosso time recebeu uma ligação de Joy , uma funcionária da Stepping Stones, pedindo por ajuda. A mãe dela havia encontrado uma menina de 13 anos chamada Glory  num terreno baldio atrás de um campo de futebol. Ela disse que foi abandonada lá por sua família mas que mora em outra vila. Glory acaba de ser resgatada e vai ficar na nossa base até arranjarmos um orfanato para ela, enquanto tentaremos localizar sua família.
Também visitei as 200 crianças em Uyo ainda no abrigo temporário em que o governo as colocou depois de tê-las retirado do orfanato CRARN. Depois de nossa última visita lá em Julho e das fortes críticas que fizemos ao governo através da mídia eles aparentemente resolveram agir e contrataram mais pessoas para cuidar das crianças, colocaram quase todas em escolas na região, lhe deram uniformes de escola e colocaram uma enfermeira também no abrigo. Assisti as crianças chegarem num ônibus e vi também a cozinheira preparando um caldeirão de sopa de folhas para elas. Foi muito bom revê-las mas certamente ainda falta o mais importante no lugar, amor. As crianças estão mais carentes do que nunca e carecem de tratamento emocional.
No meio e em volta de todo este caos estão as (LITERALMENTE) milhares de “igrejas” pregando a prosperidade e adorando a mamom. Espalhando em cada canto que você olha seus cartazes e folhetos de campanhas cheios de promessas, quase todas ligadas a prosperidade e libertação dos poderes da bruxaria. Outros prometem o milagre do casamento.  A Apóstola Helen  que fez aquele filme desgraçado que infernizou a mente dos nigerianos esta com mais uma campanha prometendo vários milagres entre eles a defesa contra ataques de bruxaria, libertação de pesadelos, falta de promoção no trabalho e impotência financeira.
Enquanto isso os valores familiares e qualquer coisa que se assemelhe ao evangelho de Cristo vão desaparecendo. O inferno vai se instalando. Todo lugar que se olha nas ruas vê-se brigas ou a corrupção do ser. E as crianças continuam a ser consideradas o primeiro fardo a ser abandonado quando a situação fica fora de controle numa família. E são rejeitadas, abusadas e abandonadas o mais distante o possível de casa.
Não tenho perdido uma chance de sentar com pastores aqui tendo longas conversas sobre o EVANGELHO e tenho tido momentos muito bons e marcantes. Com a graça de Deus, a partir de fevereiro vamos colocar o Caio na TV local. Finalmente hoje consegui sentar com a direção de um canal e comecei a acertar os detalhes. Devido ao custo estou encomendando somente meia horinha por semana mas tenho certeza que vai fazer toda a diferença na vida de quem essa mensagem alcançar, assim como tem feito na minha e na sua vida.
Nestes dois anos a única coisa que vi melhorar por aquie mesmo assim muito lentamente
foi uma  estrada que liga um caos a outro caose a empresa de petróleo ao aeroporto.
Que permaneçamos todos juntos e firmes nessa batalha.Beijo em todos.
Leo SantosEket, Niger Delta - Nigéria
18/11/2011

Aqui termino meu apelo à você. Agradecido pelo seu tempo e disposição.
Que o mundo saiba.
Nossa estação estã pensando em como auxiliar esses pequeninos. Pensamos em juntar recursos (nossos) e "adotar" uma ou duas crianças, tornando-nos mantenedores delas em orfanatos lá.
Você pode pensar: "mas existem tantas crianças aqui". Mas não existe ninguém que faça nada pelas crianças da Nigéria, e se ninguém faz  por elas, seremos nós que o faremos.
Abraço,
Raphael

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