Alguém me escreveu outro dia fazendo referência à inteligência do homem que começou a contar o tempo. Sempre pensei nisso, mas nunca com a intenção de maximizar o mérito de quem quer que seja que iniciou a contagem do nosso tempo. Sequer sei quem é. Na verdade eu sempre pensei na importância de termos referências para que pudéssemos viver o que realmente importa, e não para termos um relógio nos dizendo o tempo todo que estamos atrasados. A referência para mim serve como termômetro de vida em profundidade. Recuso-me a permitir que o relógio diga-me quanto tempo estou perdendo com minhas sonecas. Recuso-me a permitir que o relógio diga-me quanto tempo estou desperdiçando com poesia. Recuso-me a permitir que o relógio diga-me quanto tempo estou deixando passar com internet e telefone, desde que estes me unam às pessoas que amo. Não permito que os ponteiros sejam deificados e conduzam minha vida através da mínima: Tempo é dinheiro. A referência à qual faço menção é a mesma feita por Rubem Alves: Tempus Fugit! O tempo está passando, fugindo de nós. E o que temos sentido? A pergunta é essa: o que temos sentido. Não ouso perguntar sobre o que tenho feito, porque é cair de um precipício. Fazer, ter, comprar, possuir.... são verbos que não entram em minhas prioridades quando penso em referência de tempo.
Chegando ao final de mais trezentos e sessenta e cinco dias (que poderiam ser duzentos, ou cento e vinte – afinal é só referência) reporto-me às minhas sensações. Às minhas emoções. Àquilo que pude proporcionar e ao que me proporcionaram.
Ao findar desse dois mil e onze posso afirmar que sou mais feliz.
Sou mais feliz porque comprei menos e doei mais.
Porque liguei mais para meus amigos.
Amei mais minha família.
Sou mais feliz porque procurei ser mais generoso com o outro e mais exigente comigo mesmo.
Sou mais feliz porque viajei mais para encontrar-me com pessoas que amo.
Porque aprendi a diferença entre exercitar a solidão que amadurece e ser sozinho.
Sou mais feliz porque investi em pequenos momentos: correr, pedalar, caminhar, olhar o céu.
Porque só li aquilo que eu quis. Porque não li nada técnico.
Quando olho para o ano que está morrendo percebo que consegui recuperar velhas amizades, quase esquecidas pela idolatria aos deuses tempo e distância, mas revivificadas pelo poder do olhar e das palavras ditas com afeto.
É bom descobrir que as calamidades do universo não me destruíram, apesar de terem me abalado.
Sou mais feliz porque conheci pessoas novas, tão boas quanto as velhas, e porque com ambas continuo descobrindo a beleza de ser humano.
Hoje quando percebo o ano se esvaindo pelas minhas mãos sou grato a ele, por ter me oportunizado, em seu referencial de tempo, encontrar, desencontrar, reencontrar e encontrar de novo, e continuar encontrando motivos para viver bem o tempo que se vai.
Que em dois mil e doze, como diria um amigo, sejamos menos lâmpada e mais luz. Que sejamos mais humanos com o tempo que temos pela frente. Que deixemos as velhas brigas em prol de novos ideais. Que abracemos mais. Que aprendamos a andar de bicicleta de novo. Que possamos ir à missa, ou ao culto, ou à reunião de Evangelho nos lares com liberdade. Que exercitemos a caridade com o que está ao nosso lado e com o que está em outro continente. Que em dois mil e doze possamos dizer ao dinheiro “quem é mesmo o dono de quem”.
Que no próximo referencial de tempo você e eu possamos ser felizes na simplicidade das coisas simples, e que se vierem as complexas, que sejamos felizes com elas também, porque o que importa é ter consciência de que a felicidade é um caminho que escolho sendo senhor do meu tempo. Porque Tempus Fugit!
Feliz ano velho, feliz ano novo.
Raphael Juliano
Raphael Juliano
OQuerido amigo, paz. Deus te abençoe em tudo o que Ele e com a sua adesão tem realizado em ti e através de ti. Obrigado por ser esta pena nas mãos de Deus e nos dedicar esta partilha que eleva a alma e enternece o coração. Em sua partilha kronos se converteu e tornou-se kairós. Bendito seja Deus e tu como participe na comunhão com Ele. Feliz 2012! Que possamos vivê-lo como kairós. Estendo meus votos a todos os teus. Afetuosamente te abraço. Fr. Cleber, ocd.
ResponderExcluirVelho amigo, obrigado pelos desejos de bem à mim e aos meus. "...ser esta pena nas mãos de Deus...": Gostei disso. Agradeço a Ele por toda a inspiração.
ResponderExcluirDias felizes, meu caro!
RJ